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Vhils veste de azulejos estação de metro do Aeroporto parisiense de Orly

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Quando Paris se prepara para acolher os seus Jogos Olímpicos começam a sair de terra as novas estações de metro que vão alterar a fisionomia da capital francesa. Na Estação do Aeroporto de Orly, na linha 14 do metro, uma obra monumental de azulejos do artista Vhils presta homenagem a Paris e às suas gentes. A RFI participou na inauguração da estação e falou com este que é um dos maiores expoentes da arte contemporânea portuguesa.

Paris acolhe o mundo a partir de 26 de Julho para os Jogos Olímpicos de 2024.

Praticamente um mês antes do arranque da competição a capital francesa passa a ser ligada por metro, num trajecto de cerca de 20 minutos, até um dos seus aeroportos internacionais: o de Orly.

A inauguração do prolongamento da linha 14 do metro parisiense, para norte e para sul, no caso até Orly, acontece a 24 de Junho.

A estação do aeroporto, essa, foi inaugurada nesta quarta-feira, 19.

Como nas quase 70 novas estações que compõem a rede Paris Express, que devem alterar a fisionomia dos transportes, aqui também dois artistas deixaram uma obra perene.

O desenhador francês de banda desenhada Edmond Baudoin e os seus "Jogos de crianças", ilustra, nas paredes da própria plataforma do metro, a forma como os mais novos olham para o mundo da aviação.

Por seu lado o português Alexandre Farto, celebrizado mundialmente pelo nome artístico de Vhils assinou a obra "Estratos urbanos" [Strates urbaines].

Trata-se de um mural de azulejos, azuis e brancos, de 34 metros de comprimento e 7 metros de altura representando Paris, os seus monumentos: mas também os rostos plurais dos seus habitantes que se confundem com a própria cidade.

Do grafitti ilegal no Seixal, arredores da capital portuguesa, até muitas obras dispersas pelo mundo... aquele que era um dos maiores expoentes da chamada "street art", arte da rua lusitana, instalou-se no interior daquela que será uma das principais portas de acesso doravante para Paris: a partir deste aeroporto do sul da região da capital francesa.

Foi entre os níveis -1 e -2 desta estação de metro do Aeroporto de Orly, junto à obra monumental do artista, que conversámos com Vhils, logo após a respectiva inauguração, abrilhantada pela presença de Luís Montenegro, primeiro-ministro português."

Vhils admite que esta obra marca, mesmo, uma viragem no seu percurso.

"Foi uma honra e foi, para mim, que comecei a trabalhar maioritariamente na rua, com 13 anos... Estar aqui a fazer esta obra, para mim é um novo caminho para o trabalho, mas também para toda a equipa.

Já somos algumas pessoas e temos trabalhado bastante em vários sítios, mas nunca numa estação. E não um trabalho tão pouco efémero como este, porque é um trabalho que há-de ficar e que para nós teve muito significado.

E acho que sim, é um marco, é um passo na carreira."

Você fez questão de vincar de onde vinha. Falou das suas raízes alentejanas, para além de ser também um filho dos subúrbios de Lisboa, do Seixal. Porquê?

"Primeiro porque tenho orgulho do sítio onde nasci, e que me deu muito. E depois também, numa altura em que no mundo há muitas questões a serem levantadas em relação a isso, de demonstrar também que todas estas estruturas que foram criadas depois da Segunda Guerra, maioritariamente a União Europeia...

E o facto de haver estas interligações entre países, proporcionaram-me a mim e aos meus pais saírem do Alentejo. Hoje em dia vivem em Lisboa.

E a mim também de chegar aqui e fazer um projecto que envolveu pessoas de França, de Portugal, mas também de outros países europeus e dos países do mundo inteiro. E que isso é importante ressalvar e preservar.

E ter noção que foi, graças a uma série de investimentos em infra-estructuras, seja nas escolas, seja nos hospitais onde eu nasci e seja dentro desse percurso, que é um esforço colectivo que me permitiu também estar aqui.

E acho que eu: vindo do graffiti e ter feito o meu percurso.. Tudo bem, houve muito trabalho e muita dedicação ! E não estou a falar que não há uma iniciativa própria de ter lutado por muita coisa.

Mas houve uma série de condições que foram criadas pelo meio. E por uma Europa que me permitiu chegar a partir das ruas a trabalhar para conseguir chegar e fazer uma peça aqui.

Todas as pessoas que fui também envolvendo no processo do atelier, tanto da fábrica de azulejos em Portugal, como a equipa que trabalhou também em França, que também tinha portugueses. E esta estação também tem portugueses a trabalhar !

E isso demonstra também que quando nos unimos e quando temos esta integração, que existe entre os vários países da Europa, conseguimos ter mais força.

Porque é na diversidade que também conseguimos, se calhar superar-nos. E foi por aí que também quis vincar esse lado."

Pintou na ilegalidade, como o dizia, e agora é consagrado. Tem vários projectos simultâneos em Paris e este é aquele que vai ficar.

Já está ligado a Paris: penso, por exemplo, naquela Torre de Paris 13 que acabou por ser dinamitada. Já esteve em várias galerias, agora também está em "We Are Here". Como é que de repente se criou este quase cordão umbilical tão forte com Paris?

"Paris sempre foi uma cidade com uma força e um centro gravitacional à volta do mundo da arte muito importante ! E já desde os tempos em que pintava e que tinha muitos colegas e que pintavam em Paris, de Paris e de outros sítios.

Desde então foi uma relação já de 15 anos. Quase que com frequência sou convidado para projectos, ou que venho pintar com colegas que também são artistas. E essa relação foi ficando e é para mim bastante importante."

Esta matéria-prima é muito portuguesa, o azulejo. Todavia, tenho a impressão que você tem tido muitas outras matérias-primas que não necessariamente o azulejo.

Como é que foi pegar neste património, neste DNA português? O que é que você quis, de facto, mostrar aqui com esta obra?

"Primeiro de tudo, eu queria fazer uma obra que recebesse as pessoas e que de alguma forma humanizasse o espaço e a arquitectura.

Toda a natureza de trabalhar no espaço público tenta trazer um bocadinho a humanidade e a relação a esta relação que as pessoas têm com a cidade e a arquitectura... Que a mim sempre me pareceu um pouco fria e de betão e cinza.

E para mim eu queria quase partir a superfície da estação. E com ela deixar libertar o azul cobalto, que foi a cor que também escolhi aqui.

E quase que revela uma série de monumentos, uma série de imagens, de olhares que muitas vezes vemos em estações. E queria criar uma relação com o "viewer". O azulejo, para mim; foi um caminho natural. Porque é uma coisa muito ligada a Portugal, às minhas raízes. Mas tentei-lhe dar uma outra leitura e ir mais longe.

Ele não é pintado. São 11 658 azulejos, todos eles cravados, todos eles únicos, que envolvem o trabalho de uma fábrica que fechou a porta quase durante dois anos para produzir em Portugal.

E que depois houve uma equipa também em França que as recebeu e que as montou e que comigo e com toda a minha equipa..."

A cozedura das peças foi então numa fábrica portuguesa ?

"Sim, foi em Portugal. E, basicamente, todo o processo que ele implica, cada um é único e é cravado unicamente. Ele fica como o relevo e tem um género de umas paredes à volta.

Ele é posto o pó de vidro em cima, o cobalto. E quando vai ao forno derrete. E, conforme está mais cravado de fundo fica mais escuro. Quanto mais está a superfície mais claro fica.

E é nesse processo: ou seja, tentei trabalhar o azulejo e puxá-lo um bocadinho mais à frente. E fazer uma empresa familiar que trabalhava em azulejos há muito tempo e juntá-la com uma empresa de inovação que trabalha basicamente a gravação.

E tentei basicamente dar um "push", não só na técnica de azulejo, mas algo também que fosse ligado ao meu trabalho, que é sempre esta ideia de destruir a superfície. E mostrar o que está por trás e revelar e deixar que ela crie a imagem."

Voltam-se a ver os rostos como no passado. Você já desenhou muitos rostos nos prédios, nas paredes. Não há só a Torre Eiffel, que é tão simbólica de Paris. O que é que você vê mais aqui?

"Temos vários edifícios: temos o Pompidou, temos uma série de pontos. E depois temos a planta, que vemos numa segunda "layer", que é a planta de Paris. E uma série de padrões também, de que me fui inspirando por várias partes de Paris.

A ideia era mesmo conseguir criar quase este simbiose entre nós, o ser humano. Os rostos são anónimos, foram imagens que eu fui desenhando por Paris e aqui no aeroporto também.

Mas quase que os rostos se misturam e eles misturam-se completamente com a cidade. E essa é a intenção, porque no final é aquilo que nós somos.

No final, nós somos um reflexo do sítio de onde vimos, do sítio de onde vivemos e raramente influenciamos esses sítios. E esses sítios influenciam-nos muito mais !

E é nesse sentido que também queria fazer aqui uma homenagem a isso.E também uma reflexão sobre a diversidade de Paris e a diversidade da riqueza cultural que existe. Não só do património, mas também das pessoas e das histórias que existem em Paris."

Trabalhou com arquitectos, necessariamente. Foi necessário integrar a sua peça numa estação de metro: a linha 14, que é prolongada até aqui, ao aeroporto.

Como é que foi esse trabalho, também ? Com uma grande obra de transportes, que vai mudar Paris e que vai nomeadamente, ser um cartão de visita para os Jogos Olímpicos agora de 2024?!

"O desafio foi-me feito por um projecto que fala de "Grande Paris" e de abrir Paris também. E da relação com uma estação de transporte: em que entramos. É quase entrar e poder ter o acesso a toda uma outra parte da cidade.

E esta relação também com o céu e com a entrada e a saída. Daí também a escolha da cor e da técnica, que tem muito a ver com esta relação, que é um novo portal que nos permite, se calhar, aceder a uma parte de Paris que antigamente não estava ligada e que nos abre a porta a outros sítios e nos aproxima também."

Aqui também há Edmond Baudoin, portanto, um outro artista com "Jogos de crianças". Como é que foi a vossa interacção? Porque, aliás, os tons, ao nível da cor, têm muita semelhança.

"Eu sou um grande fã do trabalho dele. Todo o trabalho que ele faz de BD [Banda desenhada], já e a influência que ele teve é gigante !

Foi a convite também do curador do 104 [Centro de arte da região de Paris dirigido por José Manuel Gonçalves] que nos fez este convite. E fizemos. E é interessante: porque cada um de nós seguiu um caminho.

E, depois, encontrámo-nos e percebemos que tínhamos também sido inspirados e encontrado também um ponto em comum, não só na parte cromática como até conceptual: os trabalhos tocaram-se."

Você também fez questão de vincar o facto de que tem uma equipa: uma equipa grande. E que não é só portuguesa, que está em vários recintos. O que é que é Vhils em 2024, então: para além do artista que nós conhecemos ?

"Sou o artista que faz estes projectos, exploro o meu trabalho e estou constantemente em procura. Mas queria ressalvar que também que é um trabalho de equipa.Que muitas vezes é invisível e que é importante ressalvar. E, mais do que isso, é um trabalho também que inclui equipas que são muito diversas e que trabalhamos, não só em Paris, como já fizemos projectos em muitas partes do mundo. E sem o atelier, sem esta diversidade e sem as pessoas. E a sorte que eu tive..."

Cabo Verde é um deles !

"Cabo Verde, sim. Tenho dois colegas. Temos também do Brasil, temos em muitos sítios. Mas é nessa riqueza também que a equipa se vai crescendo, amadurecendo e também evoluindo também o trabalho.

Eu queria ressalvar isso porque acho que é importante, nos tempos em que vivemos hoje, em que muitas coisas estão a se levantar em questão a importância de entender o outro e humanizar o outro.

E do que é que ganhamos quando conseguimos criar um diálogo e pontes com outros sítios e outras culturas."

Paris vai ser definitivamente uma cidade diferente das demais, então, para si, a partir de hoje ?

"Já era. Mas ainda mais é hoje ! E também pela comunidade toda portuguesa que cá existe. Tenha também muitas pessoas conhecidas que emigraram para outras forças, noutras alturas, outras que estão cá por trabalho. Mas é uma cidade sempre muito especial para mim. Acho que para qualquer português."

E a presença do primeiro ministro português aqui teve algum significado especial para si ?

"Não estava à espera. Não foi uma coisa planeada. Pode sempre haver mais apoio e mais estratégia, mas sem dúvida que estar aqui foi importante para mim. Mas é sempre bom quando vimos o nosso trabalho reconhecido. E e o trabalho da classe e a cultura ! Um bom reflexo também para o trabalho que fizemos, e que a equipa fez também."

Finalmente também está, como por exemplo, o "We Are Here", com o Pantónio, também, com Add Fuel [no Petit Palais]. Como é que foi abraçar esse projecto que envolve figuras muito consagradas da arte contemporânea, para não dizer do "street art"?

"Foi muito bom e foi super bom voltar a rever o Pantónio e o Add Fuel. São colegas de longa data, já pintámos também noutros tempos e são artistas que sempre tiveram um impacto muito grande em mim. E dá-me um gosto enorme ver o trabalho reconhecido ! E ainda para mais na exposição que é, na Mostra que é, com os artistas todos que estão incluídos."

Para os artistas em geral que gostariam de singrar e de insistir: o que é que você lhes diria?

"Que nada substitui o trabalho, a intensidade de trabalho e dedicação. Acho que tudo é possível de aprender ! Não acredito que seja uma coisa que nasça connosco.

E acho que é tudo uma questão de percepção e de trabalho e dedicação. E as coisas, se acreditarmos, conseguimos dar a volta.

Nem sempre temos tudo a nosso favor, mas também nem sempre temos tudo contra nós. Por isso acho que é uma questão de não desistir e de ter força."

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Paris acolhe o mundo a partir de 26 de Julho para os Jogos Olímpicos de 2024.

Praticamente um mês antes do arranque da competição a capital francesa passa a ser ligada por metro, num trajecto de cerca de 20 minutos, até um dos seus aeroportos internacionais: o de Orly.

A inauguração do prolongamento da linha 14 do metro parisiense, para norte e para sul, no caso até Orly, acontece a 24 de Junho.

A estação do aeroporto, essa, foi inaugurada nesta quarta-feira, 19.

Como nas quase 70 novas estações que compõem a rede Paris Express, que devem alterar a fisionomia dos transportes, aqui também dois artistas deixaram uma obra perene.

O desenhador francês de banda desenhada Edmond Baudoin e os seus "Jogos de crianças", ilustra, nas paredes da própria plataforma do metro, a forma como os mais novos olham para o mundo da aviação.

Por seu lado o português Alexandre Farto, celebrizado mundialmente pelo nome artístico de Vhils assinou a obra "Estratos urbanos" [Strates urbaines].

Trata-se de um mural de azulejos, azuis e brancos, de 34 metros de comprimento e 7 metros de altura representando Paris, os seus monumentos: mas também os rostos plurais dos seus habitantes que se confundem com a própria cidade.

Do grafitti ilegal no Seixal, arredores da capital portuguesa, até muitas obras dispersas pelo mundo... aquele que era um dos maiores expoentes da chamada "street art", arte da rua lusitana, instalou-se no interior daquela que será uma das principais portas de acesso doravante para Paris: a partir deste aeroporto do sul da região da capital francesa.

Foi entre os níveis -1 e -2 desta estação de metro do Aeroporto de Orly, junto à obra monumental do artista, que conversámos com Vhils, logo após a respectiva inauguração, abrilhantada pela presença de Luís Montenegro, primeiro-ministro português."

Vhils admite que esta obra marca, mesmo, uma viragem no seu percurso.

"Foi uma honra e foi, para mim, que comecei a trabalhar maioritariamente na rua, com 13 anos... Estar aqui a fazer esta obra, para mim é um novo caminho para o trabalho, mas também para toda a equipa.

Já somos algumas pessoas e temos trabalhado bastante em vários sítios, mas nunca numa estação. E não um trabalho tão pouco efémero como este, porque é um trabalho que há-de ficar e que para nós teve muito significado.

E acho que sim, é um marco, é um passo na carreira."

Você fez questão de vincar de onde vinha. Falou das suas raízes alentejanas, para além de ser também um filho dos subúrbios de Lisboa, do Seixal. Porquê?

"Primeiro porque tenho orgulho do sítio onde nasci, e que me deu muito. E depois também, numa altura em que no mundo há muitas questões a serem levantadas em relação a isso, de demonstrar também que todas estas estruturas que foram criadas depois da Segunda Guerra, maioritariamente a União Europeia...

E o facto de haver estas interligações entre países, proporcionaram-me a mim e aos meus pais saírem do Alentejo. Hoje em dia vivem em Lisboa.

E a mim também de chegar aqui e fazer um projecto que envolveu pessoas de França, de Portugal, mas também de outros países europeus e dos países do mundo inteiro. E que isso é importante ressalvar e preservar.

E ter noção que foi, graças a uma série de investimentos em infra-estructuras, seja nas escolas, seja nos hospitais onde eu nasci e seja dentro desse percurso, que é um esforço colectivo que me permitiu também estar aqui.

E acho que eu: vindo do graffiti e ter feito o meu percurso.. Tudo bem, houve muito trabalho e muita dedicação ! E não estou a falar que não há uma iniciativa própria de ter lutado por muita coisa.

Mas houve uma série de condições que foram criadas pelo meio. E por uma Europa que me permitiu chegar a partir das ruas a trabalhar para conseguir chegar e fazer uma peça aqui.

Todas as pessoas que fui também envolvendo no processo do atelier, tanto da fábrica de azulejos em Portugal, como a equipa que trabalhou também em França, que também tinha portugueses. E esta estação também tem portugueses a trabalhar !

E isso demonstra também que quando nos unimos e quando temos esta integração, que existe entre os vários países da Europa, conseguimos ter mais força.

Porque é na diversidade que também conseguimos, se calhar superar-nos. E foi por aí que também quis vincar esse lado."

Pintou na ilegalidade, como o dizia, e agora é consagrado. Tem vários projectos simultâneos em Paris e este é aquele que vai ficar.

Já está ligado a Paris: penso, por exemplo, naquela Torre de Paris 13 que acabou por ser dinamitada. Já esteve em várias galerias, agora também está em "We Are Here". Como é que de repente se criou este quase cordão umbilical tão forte com Paris?

"Paris sempre foi uma cidade com uma força e um centro gravitacional à volta do mundo da arte muito importante ! E já desde os tempos em que pintava e que tinha muitos colegas e que pintavam em Paris, de Paris e de outros sítios.

Desde então foi uma relação já de 15 anos. Quase que com frequência sou convidado para projectos, ou que venho pintar com colegas que também são artistas. E essa relação foi ficando e é para mim bastante importante."

Esta matéria-prima é muito portuguesa, o azulejo. Todavia, tenho a impressão que você tem tido muitas outras matérias-primas que não necessariamente o azulejo.

Como é que foi pegar neste património, neste DNA português? O que é que você quis, de facto, mostrar aqui com esta obra?

"Primeiro de tudo, eu queria fazer uma obra que recebesse as pessoas e que de alguma forma humanizasse o espaço e a arquitectura.

Toda a natureza de trabalhar no espaço público tenta trazer um bocadinho a humanidade e a relação a esta relação que as pessoas têm com a cidade e a arquitectura... Que a mim sempre me pareceu um pouco fria e de betão e cinza.

E para mim eu queria quase partir a superfície da estação. E com ela deixar libertar o azul cobalto, que foi a cor que também escolhi aqui.

E quase que revela uma série de monumentos, uma série de imagens, de olhares que muitas vezes vemos em estações. E queria criar uma relação com o "viewer". O azulejo, para mim; foi um caminho natural. Porque é uma coisa muito ligada a Portugal, às minhas raízes. Mas tentei-lhe dar uma outra leitura e ir mais longe.

Ele não é pintado. São 11 658 azulejos, todos eles cravados, todos eles únicos, que envolvem o trabalho de uma fábrica que fechou a porta quase durante dois anos para produzir em Portugal.

E que depois houve uma equipa também em França que as recebeu e que as montou e que comigo e com toda a minha equipa..."

A cozedura das peças foi então numa fábrica portuguesa ?

"Sim, foi em Portugal. E, basicamente, todo o processo que ele implica, cada um é único e é cravado unicamente. Ele fica como o relevo e tem um género de umas paredes à volta.

Ele é posto o pó de vidro em cima, o cobalto. E quando vai ao forno derrete. E, conforme está mais cravado de fundo fica mais escuro. Quanto mais está a superfície mais claro fica.

E é nesse processo: ou seja, tentei trabalhar o azulejo e puxá-lo um bocadinho mais à frente. E fazer uma empresa familiar que trabalhava em azulejos há muito tempo e juntá-la com uma empresa de inovação que trabalha basicamente a gravação.

E tentei basicamente dar um "push", não só na técnica de azulejo, mas algo também que fosse ligado ao meu trabalho, que é sempre esta ideia de destruir a superfície. E mostrar o que está por trás e revelar e deixar que ela crie a imagem."

Voltam-se a ver os rostos como no passado. Você já desenhou muitos rostos nos prédios, nas paredes. Não há só a Torre Eiffel, que é tão simbólica de Paris. O que é que você vê mais aqui?

"Temos vários edifícios: temos o Pompidou, temos uma série de pontos. E depois temos a planta, que vemos numa segunda "layer", que é a planta de Paris. E uma série de padrões também, de que me fui inspirando por várias partes de Paris.

A ideia era mesmo conseguir criar quase este simbiose entre nós, o ser humano. Os rostos são anónimos, foram imagens que eu fui desenhando por Paris e aqui no aeroporto também.

Mas quase que os rostos se misturam e eles misturam-se completamente com a cidade. E essa é a intenção, porque no final é aquilo que nós somos.

No final, nós somos um reflexo do sítio de onde vimos, do sítio de onde vivemos e raramente influenciamos esses sítios. E esses sítios influenciam-nos muito mais !

E é nesse sentido que também queria fazer aqui uma homenagem a isso.E também uma reflexão sobre a diversidade de Paris e a diversidade da riqueza cultural que existe. Não só do património, mas também das pessoas e das histórias que existem em Paris."

Trabalhou com arquitectos, necessariamente. Foi necessário integrar a sua peça numa estação de metro: a linha 14, que é prolongada até aqui, ao aeroporto.

Como é que foi esse trabalho, também ? Com uma grande obra de transportes, que vai mudar Paris e que vai nomeadamente, ser um cartão de visita para os Jogos Olímpicos agora de 2024?!

"O desafio foi-me feito por um projecto que fala de "Grande Paris" e de abrir Paris também. E da relação com uma estação de transporte: em que entramos. É quase entrar e poder ter o acesso a toda uma outra parte da cidade.

E esta relação também com o céu e com a entrada e a saída. Daí também a escolha da cor e da técnica, que tem muito a ver com esta relação, que é um novo portal que nos permite, se calhar, aceder a uma parte de Paris que antigamente não estava ligada e que nos abre a porta a outros sítios e nos aproxima também."

Aqui também há Edmond Baudoin, portanto, um outro artista com "Jogos de crianças". Como é que foi a vossa interacção? Porque, aliás, os tons, ao nível da cor, têm muita semelhança.

"Eu sou um grande fã do trabalho dele. Todo o trabalho que ele faz de BD [Banda desenhada], já e a influência que ele teve é gigante !

Foi a convite também do curador do 104 [Centro de arte da região de Paris dirigido por José Manuel Gonçalves] que nos fez este convite. E fizemos. E é interessante: porque cada um de nós seguiu um caminho.

E, depois, encontrámo-nos e percebemos que tínhamos também sido inspirados e encontrado também um ponto em comum, não só na parte cromática como até conceptual: os trabalhos tocaram-se."

Você também fez questão de vincar o facto de que tem uma equipa: uma equipa grande. E que não é só portuguesa, que está em vários recintos. O que é que é Vhils em 2024, então: para além do artista que nós conhecemos ?

"Sou o artista que faz estes projectos, exploro o meu trabalho e estou constantemente em procura. Mas queria ressalvar que também que é um trabalho de equipa.Que muitas vezes é invisível e que é importante ressalvar. E, mais do que isso, é um trabalho também que inclui equipas que são muito diversas e que trabalhamos, não só em Paris, como já fizemos projectos em muitas partes do mundo. E sem o atelier, sem esta diversidade e sem as pessoas. E a sorte que eu tive..."

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Eu queria ressalvar isso porque acho que é importante, nos tempos em que vivemos hoje, em que muitas coisas estão a se levantar em questão a importância de entender o outro e humanizar o outro.

E do que é que ganhamos quando conseguimos criar um diálogo e pontes com outros sítios e outras culturas."

Paris vai ser definitivamente uma cidade diferente das demais, então, para si, a partir de hoje ?

"Já era. Mas ainda mais é hoje ! E também pela comunidade toda portuguesa que cá existe. Tenha também muitas pessoas conhecidas que emigraram para outras forças, noutras alturas, outras que estão cá por trabalho. Mas é uma cidade sempre muito especial para mim. Acho que para qualquer português."

E a presença do primeiro ministro português aqui teve algum significado especial para si ?

"Não estava à espera. Não foi uma coisa planeada. Pode sempre haver mais apoio e mais estratégia, mas sem dúvida que estar aqui foi importante para mim. Mas é sempre bom quando vimos o nosso trabalho reconhecido. E e o trabalho da classe e a cultura ! Um bom reflexo também para o trabalho que fizemos, e que a equipa fez também."

Finalmente também está, como por exemplo, o "We Are Here", com o Pantónio, também, com Add Fuel [no Petit Palais]. Como é que foi abraçar esse projecto que envolve figuras muito consagradas da arte contemporânea, para não dizer do "street art"?

"Foi muito bom e foi super bom voltar a rever o Pantónio e o Add Fuel. São colegas de longa data, já pintámos também noutros tempos e são artistas que sempre tiveram um impacto muito grande em mim. E dá-me um gosto enorme ver o trabalho reconhecido ! E ainda para mais na exposição que é, na Mostra que é, com os artistas todos que estão incluídos."

Para os artistas em geral que gostariam de singrar e de insistir: o que é que você lhes diria?

"Que nada substitui o trabalho, a intensidade de trabalho e dedicação. Acho que tudo é possível de aprender ! Não acredito que seja uma coisa que nasça connosco.

E acho que é tudo uma questão de percepção e de trabalho e dedicação. E as coisas, se acreditarmos, conseguimos dar a volta.

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