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Fraude, quebra de confiança e suborno: Netanyahu começa a depor em Israel
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Nesta terça-feira (10), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, começa a ser ouvido como testemunha no julgamento que mobiliza a sociedade e também a política, a imprensa e o sistema judicial de Israel. Netanyahu entra para a história do país como o primeiro líder em exercício no cargo a ser peça-chave e testemunha em três casos: Netanyahu é acusado de fraude, quebra de confiança e suborno. O premiê nega todas as acusações.
Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel
O julgamento pretende encerrar um ciclo de investigação que começou em 2017, apresentou uma acusação em 2020, mas apenas em 2021 passou a ouvir testemunhas em virtude da pandemia de Covid. Em meados de 2024, a promotoria concluiu o seu trabalho, cabendo agora a Netanyahu ser interrogado.
Devido à guerra atual, o processo sofreu inúmeros atrasos a pedido da defesa do primeiro-ministro, que queria que ele fosse ouvido no tribunal em dias não consecutivos e apenas duas vezes por semana entre 10h e 15h.
Apesar disso, em conferência de imprensa na véspera, Netanyahu disse estar pronto para testemunhar.
"Ouvi pessoas dizerem que quero evitar o julgamento. Eu? Há oito anos espero apresentar a verdade e finalmente explodir as acusações dirigidas contra mim", disse.
O premiê vai depor num tribunal subterrâneo em Tel Aviv porque o Shin Bet, o serviço de segurança interno de Israel, considerou que não havia segurança suficiente na corte de Jerusalém. Lembrando que durante a guerra atual um drone disparado pelo Hezbollah conseguiu atingir a casa de Netanyahu em Cesareia, no norte de Israel.
A juíza que preside o Tribunal Distrital de Jerusalém, Rivkah Friedman Feldman, que condenou o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert por corrupção em 2014, rejeitou três pedidos de adiamento por parte da defesa, que queria inclusive que Netanyahu fosse testemunhar apenas em março de 2025. E assim ficou estabelecido que o premiê deveria testemunhar em 10 de dezembro.
Importante lembrar que, ao contrário de Netanyahu, Olmert renunciou ao cargo de primeiro-ministro antes de sua acusação, depoimento, condenação e prisão. Ehud Olmert ficou preso por 16 meses até ser solto em julho de 2017.
As acusações contra Netanyahu
O Caso 1.000 marca a primeira acusação; supostamente, o primeiro-ministro teria recebido do empresário Arnon Milchan US$ 75.800 em charutos e US$ 52.300 em champanhe entre 2011 e 2016. A mulher de Netanyahu, Sara, também teria recebido US$ 3.100 em joias, mas a acusação alega agora que este valor seria de US$ 45 mil. Outro associado de Milchan, o australiano James Packer, também teria dado US$ 65 mil em charutos e champanhe ao casal Netanyahu.
O premiê é acusado de ajudar Milchan em questões relativas ao visto norte-americano e outros interesses comerciais em troca de presentes caros.
No Caso 2.000, o primeiro-ministro é acusado de buscar prejudicar o Israel Hayom, jornal distribuído gratuitamente, para beneficiar outro veículo, o Yediot Ahronot. Em troca, o jornal beneficiado deveria mudar a abordagem jornalística da cobertura sobre o primeiro-ministro que ele considerava negativa .
Já o Caso 4.000, também conhecido como caso Bezeq-Walla, tem como foco as alegações de que Netanyahu teria aprovado decisões regulatórias que beneficiariam financeiramente Shaul Elovitch, acionista da companhia de telecomunicações Bezeq. A acusação é de que, em contrapartida, Netanyahu teria passado a receber cobertura jornalística favorável do popular portal de notícias Walla, também de propriedade de Elovitch.
Prazos de duração
Netanyahu vai testemunhar entre duas a três vezes por semana num processo que deve durar semanas ou meses. Com a situação do país durante a guerra, Netanyahu pode encontrar caminhos para se ausentar: a possibilidade de um novo acordo para libertar os reféns israelenses a partir de um cessar-fogo na Faixa de Gaza; a situação de segurança no norte de Israel, e os acontecimentos em curso na Síria são alguns dos exemplos de eventos que podem solicitar a presença urgente do primeiro-ministro para tomar decisões.
A exposição da defesa não deve se encerrar antes do final de 2025, podendo chegar até 2026. Há ainda os argumentos finais e a possibilidade de recurso, o que pode empurrar ainda mais a data da decisão.
Em entrevista ao jornal Maariv, Sassy Gez, um dos principais advogados de Israel, acredita que Netanyahu poderá ser absolvido da acusação de suborno no Caso 4.000, mas que poderá ser condenado por quebra de confiança. Mas isso não resolve de todo a situação do premiê, segundo o advogado.
"Se ele for condenado por quebra de confiança, o tribunal deverá determinar se é um crime que envolve difamação (das funções do cargo que ele ocupa). Se o tribunal decidir que os crimes implicam difamação, Netanyahu não poderá continuar na sua posição de primeiro-ministro", avalia.
Nova realidade na Síria
Apesar das questões internas em Israel, uma nova realidade na Síria também mobiliza as autoridades do país, que tem dúvidas sobre as reais intenções do Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), grupo jihadista que protagonizou o rápido processo de tomada da Síria e deposiçao do agora ex-presidente Bashar al-Assad.
O HTS foi formado em 2017 como uma espécie de versão 2.0 da Frente Nusra, um braço da Al-Qaeda. O líder do grupo, Abu Mohammed al-Golani, procura passar a impressão de que pretende adotar postura pragmática e deixou claro à CNN que o objetivo era derrubar o regime de Assad. Não se sabe muito mais além disso.
Israel não sabe o cenário que irá emergir do caos e da instabilidade na Síria. Se por um lado tem a notícia positiva de derrota de Rússia, Irã e Hezbollah, por outro trabalha com a possibilidade de que grupos vinculados no passado à rede al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI) se estabeleçam próximos à fronteira israelense. Por isso, as autoridades do país decidiram tomar a zona tampão entre Israel e Síria, uma área de 235 quilômetros quadrados.
Israel corre contra o tempo para “limpar o terreno” a partir de um objetivo que considera prático e fundamental: impedir que o armamento deixado para trás pelo regime de Assad seja acessado pelos diferentes grupos que atuam neste momento no território.
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Nesta terça-feira (10), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, começa a ser ouvido como testemunha no julgamento que mobiliza a sociedade e também a política, a imprensa e o sistema judicial de Israel. Netanyahu entra para a história do país como o primeiro líder em exercício no cargo a ser peça-chave e testemunha em três casos: Netanyahu é acusado de fraude, quebra de confiança e suborno. O premiê nega todas as acusações.
Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel
O julgamento pretende encerrar um ciclo de investigação que começou em 2017, apresentou uma acusação em 2020, mas apenas em 2021 passou a ouvir testemunhas em virtude da pandemia de Covid. Em meados de 2024, a promotoria concluiu o seu trabalho, cabendo agora a Netanyahu ser interrogado.
Devido à guerra atual, o processo sofreu inúmeros atrasos a pedido da defesa do primeiro-ministro, que queria que ele fosse ouvido no tribunal em dias não consecutivos e apenas duas vezes por semana entre 10h e 15h.
Apesar disso, em conferência de imprensa na véspera, Netanyahu disse estar pronto para testemunhar.
"Ouvi pessoas dizerem que quero evitar o julgamento. Eu? Há oito anos espero apresentar a verdade e finalmente explodir as acusações dirigidas contra mim", disse.
O premiê vai depor num tribunal subterrâneo em Tel Aviv porque o Shin Bet, o serviço de segurança interno de Israel, considerou que não havia segurança suficiente na corte de Jerusalém. Lembrando que durante a guerra atual um drone disparado pelo Hezbollah conseguiu atingir a casa de Netanyahu em Cesareia, no norte de Israel.
A juíza que preside o Tribunal Distrital de Jerusalém, Rivkah Friedman Feldman, que condenou o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert por corrupção em 2014, rejeitou três pedidos de adiamento por parte da defesa, que queria inclusive que Netanyahu fosse testemunhar apenas em março de 2025. E assim ficou estabelecido que o premiê deveria testemunhar em 10 de dezembro.
Importante lembrar que, ao contrário de Netanyahu, Olmert renunciou ao cargo de primeiro-ministro antes de sua acusação, depoimento, condenação e prisão. Ehud Olmert ficou preso por 16 meses até ser solto em julho de 2017.
As acusações contra Netanyahu
O Caso 1.000 marca a primeira acusação; supostamente, o primeiro-ministro teria recebido do empresário Arnon Milchan US$ 75.800 em charutos e US$ 52.300 em champanhe entre 2011 e 2016. A mulher de Netanyahu, Sara, também teria recebido US$ 3.100 em joias, mas a acusação alega agora que este valor seria de US$ 45 mil. Outro associado de Milchan, o australiano James Packer, também teria dado US$ 65 mil em charutos e champanhe ao casal Netanyahu.
O premiê é acusado de ajudar Milchan em questões relativas ao visto norte-americano e outros interesses comerciais em troca de presentes caros.
No Caso 2.000, o primeiro-ministro é acusado de buscar prejudicar o Israel Hayom, jornal distribuído gratuitamente, para beneficiar outro veículo, o Yediot Ahronot. Em troca, o jornal beneficiado deveria mudar a abordagem jornalística da cobertura sobre o primeiro-ministro que ele considerava negativa .
Já o Caso 4.000, também conhecido como caso Bezeq-Walla, tem como foco as alegações de que Netanyahu teria aprovado decisões regulatórias que beneficiariam financeiramente Shaul Elovitch, acionista da companhia de telecomunicações Bezeq. A acusação é de que, em contrapartida, Netanyahu teria passado a receber cobertura jornalística favorável do popular portal de notícias Walla, também de propriedade de Elovitch.
Prazos de duração
Netanyahu vai testemunhar entre duas a três vezes por semana num processo que deve durar semanas ou meses. Com a situação do país durante a guerra, Netanyahu pode encontrar caminhos para se ausentar: a possibilidade de um novo acordo para libertar os reféns israelenses a partir de um cessar-fogo na Faixa de Gaza; a situação de segurança no norte de Israel, e os acontecimentos em curso na Síria são alguns dos exemplos de eventos que podem solicitar a presença urgente do primeiro-ministro para tomar decisões.
A exposição da defesa não deve se encerrar antes do final de 2025, podendo chegar até 2026. Há ainda os argumentos finais e a possibilidade de recurso, o que pode empurrar ainda mais a data da decisão.
Em entrevista ao jornal Maariv, Sassy Gez, um dos principais advogados de Israel, acredita que Netanyahu poderá ser absolvido da acusação de suborno no Caso 4.000, mas que poderá ser condenado por quebra de confiança. Mas isso não resolve de todo a situação do premiê, segundo o advogado.
"Se ele for condenado por quebra de confiança, o tribunal deverá determinar se é um crime que envolve difamação (das funções do cargo que ele ocupa). Se o tribunal decidir que os crimes implicam difamação, Netanyahu não poderá continuar na sua posição de primeiro-ministro", avalia.
Nova realidade na Síria
Apesar das questões internas em Israel, uma nova realidade na Síria também mobiliza as autoridades do país, que tem dúvidas sobre as reais intenções do Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), grupo jihadista que protagonizou o rápido processo de tomada da Síria e deposiçao do agora ex-presidente Bashar al-Assad.
O HTS foi formado em 2017 como uma espécie de versão 2.0 da Frente Nusra, um braço da Al-Qaeda. O líder do grupo, Abu Mohammed al-Golani, procura passar a impressão de que pretende adotar postura pragmática e deixou claro à CNN que o objetivo era derrubar o regime de Assad. Não se sabe muito mais além disso.
Israel não sabe o cenário que irá emergir do caos e da instabilidade na Síria. Se por um lado tem a notícia positiva de derrota de Rússia, Irã e Hezbollah, por outro trabalha com a possibilidade de que grupos vinculados no passado à rede al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI) se estabeleçam próximos à fronteira israelense. Por isso, as autoridades do país decidiram tomar a zona tampão entre Israel e Síria, uma área de 235 quilômetros quadrados.
Israel corre contra o tempo para “limpar o terreno” a partir de um objetivo que considera prático e fundamental: impedir que o armamento deixado para trás pelo regime de Assad seja acessado pelos diferentes grupos que atuam neste momento no território.
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