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Onde guarda as palavras o cérebro? Joaquim Ferreira
Manage episode 443122021 series 3444813
O cérebro humano e o seu funcionamento.
A caixa onde guardamos as palavras, os sentimentos e os movimentos.
O cérebro enquanto caixa de comando e guardador de memórias e identidades.
O cérebro que se molda plasticamente para compensar danos, bloqueios e faltas de ar.
O cérebro do juízo e da consciência.
Da alma ou apenas como fundação biológica.
Este “podcast” entra pelo ouvido, mas é aí, desse lado, processado na sua mente.
Daqui um perguntador que quis saber tudo dos saberes do neurologista Joaquim Ferreira.
Todos vimos o momento em que o atual presidente dos Estados Unidos bloqueou num debate vital com o seu oponente.
Em pleno direto Jose Biden como que congelou.
Ficou com ar vago e focado no horizonte.
E as palavras ficaram caladas.
Todo o debate foi marcado por este momento aflitivo.
Mas já antes houve sinais de alerta.
O tropeçar na escada do avião. O ficar parado como que desligado das pessoas que estavam em volta.
Sim, o movimento ou a alteração do movimento é porta de entrada para algo que se pode estar a passar no cérebro.
Todos sabemos como acabou esta história: Joe Biden abundou a corrida eleitoral.
Este foi o pretexto inicial para gravar uma conversa com o médico, investigador e professor Joaquim Ferreira. É neurologista.
Dedica-se a estudar o mais enigmático órgão que possuímos: o cérebro.
Oportunidade para aprender sobre a maneira como faz perguntas, como observa.
Vê-se como fica encantado com a maneira como o cérebro humano se adapta.
Como o sono, o exercício e estarmos simplesmente a conviver uns com os outros nos pode proteger das temíveis doenças neurodegenerativas.
Mas onde está a fronteira entre o normal envelhecimento e algo mais sério do que o lento gastar da nossa existência?
Como um alerta: a reforma é capaz de não ser a melhor receita para quem quer manter o cérebro a vibrar. Tal como dormir mal. Ou não falar com os amigos. Ou não mexer os músculos.
Uma conversa sobre comunicação, biologia e comportamento humano.
Está tudo dentro da nossa cabeça
Da dúvida nascerá a luz.
Perguntas que se fazem seguramente dentro da cabeça para responder ao infinito mistério do funcionamento do cérebro humano.
Todas as perguntas.
Como funciona, como carrega palavras e emoções.
Como nos faz sentir um eu e não o outro.
Onde começa e acaba de ter consciência de si próprio e do outro.
Talvez esta questão da identidade seja aquela que mais me perturba nos eventos ligados ao nosso cérebro.
Em muitas das doenças neurológicas perde-se o sentido do eu e a ligação aos outros.
E nesse momento a simples pergunta “quem és tu?” ou “quem sou eu?” Deixa de ser uma dúvida existencial e passa a ser um vazio insustentável.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:00:06 – 00:00:14:15
JORGE CORREIA
Joaquim Ferreira, neurologista, professor de neurologia, professor e doutor de neurologia. É um estudioso desta última fronteira. Nós sabemos muita coisa sobre muitos órgãos, mas o cérebro continua a ser um grande ponto de interrogação.
00:00:14:17 – 00:00:37:12
JOAQUIM FERREIRA
E esse termo estudioso é um bocadinho pomposo e diria que o professor é verdade. Actualmente o professor tem a responsabilidade de formar alunos, formar médicos. Na minha escola, na Faculdade de Medicina, tenho responsabilidades na farmacologia clínica e na neurologia e investigar muito. Imagino que quem tem um projeto académico é suposto deveria fazer uma troika com este termo Troika, troika que foi aplicado em Portugal.
00:00:37:12 – 00:01:09:19
JOAQUIM FERREIRA
Noutro contexto, troca a troika para um académico, médico e ser competente quando é suposto que eu saiba fazer bem aquilo que depois vou ensinar. Depois ensino bem os meus alunos e faço investigação porque ainda tenho a veleidade de achar que esta conjugação permite me formar melhores médicos e eu próprio, no fundo, ter um conjunto de competências que me levem a fazer melhor daquilo que é suposto a quem está na academia ensinar a ver o doente de forma competente e fazer investigação clínica científica Nas áreas onde trabalho.
00:01:09:21 – 00:01:31:07
JORGE CORREIA
Um perito em neurologia seguramente tem arte principal para fazer perguntas. De resto, os cientistas têm essa. Segue algum método para para fazer perguntas sobre sobre as coisas e sobre o cérebro? O que é que pergunta? Isto é curioso. É quase uma matrioshka que pergunta ao seu próprio cérebro como é que faz perguntas sobre o cérebro no geral do nosso, de toda a gente?
00:01:31:08 – 00:01:42:23
JOAQUIM FERREIRA
Ser médico obriga me a fazer perguntas. Cada pessoa que eu vejo é suposto saber um bocadinho porque é que a trouxe ali. O que é que tem, o que é que aquelas coisas justificam tanto? O simples exercício da medicina é um exercício de curiosidade.
00:01:43:04 – 00:01:45:22
JORGE CORREIA
Há perguntas fundamentais para se fazer um doente.
00:01:45:22 – 00:02:08:23
JOAQUIM FERREIRA
A primeira pergunta tem quase a ver com o jornalismo, que é deixar gente falar da primeira pergunta numa consulta médica. O primeiro tempo é o que é que o trouxe aqui? O que é que aconteceu desde a última vez que nos encontramos? Que é, no fundo, dar um tempo para aquilo que nós somos. Discurso espontâneo não é para que as pessoas nos digam aquilo que lhes vem à cabeça.
00:02:09:00 – 00:02:27:20
JOAQUIM FERREIRA
E é que é importantíssimo nós escutarmos de forma atenta. A primeira pergunta é deixar quem está do outro lado, seja doente, ou seja, uma pessoa que não tem doença nenhuma formal, mas tem uma razão que a traz a falar connosco, expressar se depois de um encadeamento de ideias aplica se à clínica. Como se aplica a ciência, como se aplica ao ensino.
00:02:27:24 – 00:02:49:02
JORGE CORREIA
E isso aplica se também. Quero imaginar que, mesmo antes de fazer uma pergunta verbal ou ouvir qualquer palavra no momento em que o doente entrou ali na porta do consultório, logo aí dá para retirar informação daquilo que que aquela pessoa pode trazer Imensas coisas.
00:02:49:04 – 00:02:56:18
JOAQUIM FERREIRA
Às vezes sinto me mal, pois o resto do tempo é um bocadinho teatro, porque aquele momento inicial já me deu imensas pistas sobre aquilo que vou decidir depois.
00:02:56:23 – 00:02:58:05
JORGE CORREIA
Já um clique.
00:02:58:07 – 00:03:31:04
JOAQUIM FERREIRA
Imenso dentro da neurologia, de como uma área que se chamam doenças do movimento. O que é que são as doenças de movimento? Que nomes de doenças devem ser Parkinson, tremor, doença, que não são, doenças, que dão uma lentificação do movimento ou geram movimentos anormais. Curiosamente, o jornal científico desta área, os artigos científicos vêm em papel, agora em formato digital, mas também têm vídeos, Ou seja, a forma de nós ensinarmos e de falarmos com os nossos colegas e explicarmos aquilo que vimos e mostrando vídeos em que é reportado o tal movimento normal.
00:03:31:04 – 00:03:33:23
JORGE CORREIA
Portanto, há uma interpretação no fundo do movimento.
00:03:34:00 – 00:03:49:03
JOAQUIM FERREIRA
É muito curioso que antes da pandemia tinha previsto dar uma aula a alunos internacionais de várias escolas médicas em que o tema era fazermos diagnósticos só por vermos os doentes andar melhor e fazer diagnósticos para vermos as pessoas andar.
00:03:49:04 – 00:03:49:22
JORGE CORREIA
Como é que esse início.
00:03:49:22 – 00:04:26:12
JOAQUIM FERREIRA
Tinha previsto e tinha previsto? Não foi nada. Portanto, eu estou aqui a confessar algo que tinha planeado e que acabou por não acontecer e que também tem a sua graça, que era a minha ideia aplicar nos alunos alunos internacionais. Era um congresso médico Internacional para alunos de Medicina, organizado pelos alunos da minha escola médica da Faculdade de Medicina e ala que eu tinha previsto pegar nos alunos, irmos para o metro, sentarmo nos e vermos as pessoas passarem por nós, caminharem e em função do tipo de andar, das alterações de marcha, da forma como caminhamos, nós aprendemos imenso sobre, no fundo, o estado de saúde das pessoas se não estiverem saudáveis, sobre a doença que gera
00:04:26:12 – 00:04:53:24
JOAQUIM FERREIRA
uma marcha que pode estar um bocadinho alterada, tem o mérito de que, como eu depois não ia falar com as pessoas, não e nunca confirmaria o diagnóstico. Portanto, que eu brigava com os alunos sem ter um fundo de verificação. Depois, se a minha hipótese não bate certo, mas sim, eu vou esperar todos os meus doentes à porta ou até fora da porta, porque muitas vezes têm que os ajudar a entrar, porque eles caminham de uma forma lenta a forma, a temperatura da mão.
00:04:53:24 – 00:05:21:01
JOAQUIM FERREIRA
Quando damos um aperto de mão, ensinamos imensas coisas. O som que produzimos quando caminhamos no fundo do arrastar de um pé no chão porque temos dificuldade de mover uma perna dá nos imensa informação, portanto. Sim, a não ser que esteja muito cansada, não esteja em forma, também nós estamos em forma. Fomos parar todos os meus doentes à porta e acompanho os e estou atento a tudo aquilo que resulta do contacto verbal, da marcha, do movimento, da temperatura da pele.
00:05:21:03 – 00:05:34:14
JORGE CORREIA
Lembro me agora. Tive um vislumbre da minha aldeia, da aldeia dos meus avós, de uma expressão que se usava, que é está tão velho que arrasta os pés que era. Lá estamos nós.
00:05:34:14 – 00:05:51:12
JOAQUIM FERREIRA
Está corretíssimo, está corretíssimo e é de facto o envelhecimento leva a uma lentificação do movimento. É uma lentificação da marcha sim. Se nós olharmos em fundo para toda a população mundial e formos medir a velocidade da marcha das pessoas à medida que envelhecem.
00:05:51:15 – 00:05:54:13
JORGE CORREIA
Tivemos as crianças que estão sempre a correr.
00:05:54:15 – 00:06:11:03
JOAQUIM FERREIRA
Nós envelhecemos, a velocidade do nosso andar vai diminuindo e depois o que é de facto é interessante, mas perigoso. Nós. É quase como se nós conseguíssemos prever o fim da vida só pela velocidade com que nos deslocamos. Movimento caminhando.
00:06:11:05 – 00:06:14:08
JORGE CORREIA
Não, não sei se há um estudo, mas haverá uma curva e uma curva.
00:06:14:10 – 00:06:34:14
JOAQUIM FERREIRA
Na largura, uma curva. Há uma curva para os homens, há uma curva para as mulheres e, portanto, isso é, isso é factual. Portanto, isso é a ciência. Eu depois brinco um bocadinho no hospital, desloco me muito rapidamente, as pessoas vêem me a correr e eu digo que a forma de combater a minha pressão natural para andando mais devagar foi de estar mais próximo de um fim de vida.
00:06:34:16 – 00:06:58:00
JOAQUIM FERREIRA
A nossa biologia é muito interessante. Não é só estarmos, não. É só que as pessoas mais velhas da aldeia que se lembram não era só andarem mais devagar. Há outras coisas que também acontecem. Pessoas passam andar mais devagar, passam a ficar mais esquecidas, ficam um bocadinho baralhadas, têm umas brancas, algumas têm um comportamento um bocadinho normal, ser um bocadinho mais aluado, mais diferente.
00:06:58:05 – 00:07:12:16
JORGE CORREIA
Onde é que está a fronteira entre o normal envelhecimento com essa lentificação do movimento, essa palavra que se esqueceu o nome que que foi trocado para um advento de uma doença.
00:07:12:18 – 00:07:33:16
JOAQUIM FERREIRA
Há uma forma muito simples, que é quando isso interfere naquilo que é função que nós devíamos fazer naquela idade, passa a ser doença. Ou seja, quando uma coisa é uma característica, não é presente que estamos aqui a dizer eu estou. Na medida que envelhecem, têm características diferentes, ficam com rugas e as rugas do ponto de vista mais a andarem um pouco mais devagar.
00:07:33:18 – 00:08:05:05
JOAQUIM FERREIRA
O que é doença? É doença quando de alguma forma condiciona o desconforto, o sofrimento, a perda de funcionalidade. Quando uma coisa é uma pessoas perderem a autonomia, então é bom que alguém com 85 anos ou 90 anos consiga deslocar se, consiga gerir os seus bairros, vai conseguir gerir as suas propriedades. Depois, em termos matemáticos, nós usamos no fim dos anos médias e usamos uns desvios e obviamente, consideramos doença aquilo que está um bocadinho desviante daquilo que é o padrão mais frequente da maior parte das pessoas naquela idade.
00:08:05:07 – 00:08:10:03
JORGE CORREIA
Portanto, em princípio, o envelhecimento não é uma doença em si mesmo.
00:08:10:05 – 00:08:11:10
JOAQUIM FERREIRA
Não é uma doença.
00:08:11:12 – 00:08:12:09
JORGE CORREIA
É uma condição humana.
00:08:12:10 – 00:08:29:15
JOAQUIM FERREIRA
É uma mudança de uma característica biológica que de facto tem esta variável, que é o tempo. E o tempo é inexorável. O tempo vai progredindo, nós não conseguimos fazer com que o tempo ande para trás. Mas é essa observação muito perspicaz que faz depois. Tem imensas implicações, mesmo do ponto de vista científico.
00:08:29:16 – 00:08:31:09
JORGE CORREIA
Então vamos ramifica las.
00:08:31:11 – 00:08:52:14
JOAQUIM FERREIRA
Uma coisa muito simples e nós temos imensa dificuldade a tratar muitas doenças em que a idade de facto é o fator de risco principal e algumas, infelizmente são doenças em que o trabalho por causa de Alzheimer. A doença de Parkinson Ainda hoje estava num evento na faculdade de Ciências em que se falava de exercício e falava se da importância, no fundo destas, destas atividades.
00:08:52:16 – 00:09:19:14
JOAQUIM FERREIRA
E eu alertava a toda a gente que é fundamental pensarmos nestas intervenções terapêuticas não farmacológicas. O exercício, porque o número de pessoas com estas doenças cruéis, como o Alzheimer e a doença de Parkinson, vão aumentar nos próximos anos e nós temos que fazer o máximo possível para que o atrasarmos o seu aparecimento, o que idealmente não aconteça. Mas voltando à idade, a idade, de facto, é o fator de risco principal para que estas doenças apareçam.
00:09:19:16 – 00:09:38:15
JOAQUIM FERREIRA
E nós temos nós. Comunidade científica tem tido imensa dificuldade em ter bons tratamentos para estas doenças. Nós temos tratamentos que melhoram um bocadinho os sintomas da doença de Parkinson, que melhoram muito os sintomas, mas não temos nenhum tratamento, o que impeça que elas começam ou que, uma vez começando, atrasem a sua evolução, tanto que evoluam, progridam de forma mais lenta.
00:09:38:15 – 00:10:02:04
JORGE CORREIA
Isso é muito curioso, porque se nós olharmos para outros órgãos, para o coração, para o fígado, para os rins, o número de opções vão sempre melhorando. Hoje já se fala, não sei se no universo do desejo, da fantasia ou da realidade, já há de ter umas células, linhas de substituição, umas células estaminais que a gente possa ir lá fazer uns remendos.
00:10:02:06 – 00:10:15:05
JORGE CORREIA
O que raio tem o cérebro para ser assim tão difícil de deixar entender o seu mecanismo e de abrirmos portas para a gente conseguir apertar com a parte que eu chamo de parafusos?
00:10:15:07 – 00:10:26:02
JOAQUIM FERREIRA
Tem toda a razão. As doenças cerebrais. Tem sido mais difícil encontrarmos bons tratamentos, mesmo comparando com outras doenças também cruéis do cancro. Estes últimos anos o progresso no tratamento do cancro foi enorme.
00:10:26:04 – 00:10:28:07
JORGE CORREIA
Então o que é que o cérebro tem que.
00:10:28:09 – 00:10:36:02
JOAQUIM FERREIRA
Nós sabemos menos sobre o mecanismo da doença, isto é, quando coisas como temos uma avaria lá em casa, não é mais fácil resolver. Se a gente souber onde é que está o furo.
00:10:36:02 – 00:10:43:00
JORGE CORREIA
E também, como até agora havia muito poucos doentes em comparação na população, nós morríamos mais cedo.
00:10:43:02 – 00:10:49:04
JOAQUIM FERREIRA
É verdade mesmo. Já há muitos anos que temos muita gente em idade de ter estas doenças. Já não é por falta de população para.
00:10:49:04 – 00:10:50:16
JORGE CORREIA
Estudar, Então é o próprio órgão que é.
00:10:50:16 – 00:11:06:01
JOAQUIM FERREIRA
Deficiente, oxidado. A complexidade da causa que está na base do aparecimento dos sintomas, algumas doenças de outros órgãos. Nós sabemos que há ali um anticorpo que encaixa numa determinada superfície.
00:11:06:05 – 00:11:06:23
JORGE CORREIA
Descobrimos um bem.
00:11:06:24 – 00:11:11:13
JOAQUIM FERREIRA
Nós conseguimos ir lá, interromper aquilo é apenas um fator ou dois fatores.
00:11:11:15 – 00:11:12:19
JORGE CORREIA
E os nossos neurónios.
00:11:12:21 – 00:11:40:11
JOAQUIM FERREIRA
São muitos fatores e nós não os conhecemos. E nós só desenvolvemos medicamentos para os mecanismos que conhecemos. Nós não temos capacidade de desenvolver um medicamento para coisas que nós não sabemos que são importantes. Mas voltando ao envelhecimento, o problema do cérebro é que o fator principal que condiciona o aparecimento destas coisas, mas é de facto a idade. Ou seja, se eu começar com doença de Parkinson aos 50 ou aos 55 e depois aos 65, as coisas mais vão acontecer mais tarde, mais ou menos na mesma idade.
00:11:40:11 – 00:11:58:09
JOAQUIM FERREIRA
Ou seja, o relógio biológico é poderosíssimo que nós, para podermos de facto atrasar estas doenças, de aparecerem coisas que tínhamos que mexer no relógio e mexer no relógio da vida do tempo é muito mais difícil do que ter um anticorpo que se vai ligar a uma determinada substância e impede o aparecimento de uma doença muito difícil.
00:11:58:12 – 00:12:14:13
JORGE CORREIA
Se nós estamos a olhar para determinadas doenças do cérebro que se manifestam, tem como sintoma o movimento, o movimento, a ginástica, a piscina, a dança, o passeio podem ajudar a tentar parar isto um bocadinho.
00:12:14:13 – 00:12:25:16
JOAQUIM FERREIRA
São importantíssimos. É uma coisa que nós fazemos há milhares de antes de olharmos assim um bocadinho de soslaio. É verdade, pensamos que era assim uma coisa quase recreacional, Não é? Como que vai ao cinema.
00:12:25:16 – 00:12:27:09
JORGE CORREIA
É divertido não pensar mais nisso.
00:12:27:12 – 00:12:42:23
JOAQUIM FERREIRA
É muito curioso, até porque estamos a falhar no desenvolvimento medicamentos. Temos que nos voltar. Os médicos também têm os seus truques e os cientistas também têm os seus truques. E, obviamente, como estamos a falhar um bocadinho o desenvolvimento de medicamentos, vamos por outro caminho de doenças. O que é que nós podemos usar que talvez funcione de facto, o exercício.
00:12:43:00 – 00:13:07:05
JOAQUIM FERREIRA
A física funciona e funciona e é muito curioso e útil do ponto de vista dos aspetos motores, o andar, a postura. Mas também é útil do ponto de vista dos aspectos cognitivos e comportamentais. O exercício melhora a ansiedade, melhora a depressão e também melhora aspectos cognitivos. E ainda é muito engraçado porque é consegue também dominar alguns aspetos que tem a ver com a indústria farmacêutica e os medicamentos.
00:13:07:07 – 00:13:21:11
JOAQUIM FERREIRA
Nós, na parte farmacológica, queremos ter medicamentos que são muito específicos, que atuam naquele recetor e que a gente consegue controlar tudo. O exercício é exatamente o oposto disso. O exercício é uma coisa que atua em várias zonas do cérebro, que não é nada específico.
00:13:21:11 – 00:13:23:14
JORGE CORREIA
É holístico, quase.
00:13:23:16 – 00:13:57:18
JOAQUIM FERREIRA
Nós temos em farmacologia um termo que eu vou ter que inglês, que drugs, drogas sujas, medicamentos sujos porque? Porque não são muito específicos, atuam no recetor, no receptor, bem no receptor. Vê? Isso é spam. Farmacologia é uma heresia, uma coisa má. Por que a gente perde o controlo? O exercício é uma tratamento, mas faz bem, portanto, e quase questiona muitos dos princípios que de alguma forma norteiam quem, como eu, exposto, desenvolver e criar medicamentos para tratar as doenças, ou seja, extremamente eficaz.
00:13:57:19 – 00:14:17:13
JORGE CORREIA
Olá, Vamos então Paz aos saberes da antiguidade. Bem alimentar, bom sono, bom exercício. O sono também conta. Estou a pensar porque a nossa vida hoje é cada vez mais apressada. A nossa qualidade de sono eh recente, temos telemóveis a noite e por aí fora. Dormir bem e protetor.
00:14:17:17 – 00:14:39:21
JOAQUIM FERREIRA
É também uma redescoberta. Mas os antigos já o diziam, não é? Portanto, sim, o sono faz parte da lista dos fatores que são fundamentais para para um bom estado de saúde e provavelmente por uma boa qualidade de vida. Não só no sentido que dormir bem também nos causa coisas boas, coisas muito simples. Não dormirmos bem se tivermos um sono fragmentado no dia seguinte, estamos mais cansados.
00:14:39:23 – 00:15:08:17
JOAQUIM FERREIRA
A nossa performance profissional e menos boa até a parte cognitiva fica menos boa. Portanto, um sono de má qualidade diminui as nossas capacidades cognitivas. Sim, mas o sono é muito engraçado também. Sob muitos aspectos, o sono é um marcador do aparecimento futuro de doenças. Algumas alterações do sono que se alguém tiver aos 40 anos, aos 45, o risco de passar de 15 anos, ter uma doença neurodegenerativa elevadíssima.
00:15:08:19 – 00:15:10:13
JORGE CORREIA
E conseguimos medir isso, conseguimos medir.
00:15:10:13 – 00:15:14:05
JOAQUIM FERREIRA
Basta perguntar como é que eu estou hoje? É melhor eu não dizer.
00:15:14:07 – 00:15:14:20
JORGE CORREIA
Para não assustar.
00:15:14:20 – 00:15:37:02
JOAQUIM FERREIRA
As pessoas, Ninguém. Mas sim, há algumas características do sono que o médico na consulta, fazendo um questionário, consegue identificar e que são de facto um fator, diria preditor enorme, porque algumas doenças podem surgir no futuro. Sim, quando o sono é mais um daqueles aspetos de que na medicina e na ciência tem uma imensa informação importantíssima.
00:15:37:08 – 00:16:15:16
JORGE CORREIA
Vamos a um caso muito concreto e muito pragmático. Nas últimas semanas, na corrida eleitoral nos Estados Unidos, há um debate entre o presidente Tebaida e o candidato a presidente Trump. De resto, ele própria também é presidente. E acontece algo que nos chocou todos, que é o presidente Biden ficou longos segundos parado, o olhar quase no horizonte, não articulava palavras com a fluência que lhe articulava.
00:16:15:18 – 00:16:29:11
JORGE CORREIA
O que levou, no fim destas contas todas, a que ele tenha abandonado a corrida? O que que os olhos de um médico vêem nisto? Que aconteceu a de Almeida?
00:16:29:13 – 00:16:33:24
JOAQUIM FERREIRA
Os meus olhos são bem mais perigosos do que os olhos da população em geral a olhar para este tipo de situação.
00:16:33:24 – 00:16:35:00
JORGE CORREIA
Por isso é isso que eu estou a.
00:16:35:00 – 00:17:01:18
JOAQUIM FERREIRA
Procura no primeiro comentário. Felizmente ou infelizmente, o presente ainda não é meu doente, Portanto eu vou comentar à vontade, porque ausente aqui e como observador televisivo, não é, portanto, por cima da figura pública e portanto, aquilo que vou comentar não é algo que não tenha sido já comentado e que eu vendo que encontrou em múltiplos órgãos de informação e na web uma branca, aquele episódio por si só, deveria levar, no fundo, a decisão de abandono de uma campanha presidencial num país como os Estados Unidos.
00:17:01:18 – 00:17:10:14
JOAQUIM FERREIRA
Aquele episódio isolado por si só, não é, portanto, um episódio em que um de nós obviamente persegue o presente, mas tem no momento uma idade já avançada numa vida.
00:17:10:14 – 00:17:11:23
JORGE CORREIA
É difícil, não é durante muito tempo.
00:17:11:24 – 00:17:32:12
JOAQUIM FERREIRA
Passado, mas é possível estar cognitivamente muito bem naquela idade. Claro que sim. Claro que sim. Há pessoas notáveis que estão cognitivamente em plenitude. Será que aos 80 anos, aos 85 anos, portanto, aquele episódio que é o episódio em que toda a gente percebeu que ficou desorientado, no fundo ficou baralhado e foi público, não foi, nem foi e foi.
00:17:32:12 – 00:17:54:21
JOAQUIM FERREIRA
Todos ficamos incomodados, eu diria. Portanto, um episódio daqueles, por si só, deve nos levar a tirar conclusões de que há um declínio cognitivo ou que há uma doença. Não o problema do presente, que aquilo é associado a um conjunto de outras coisas, na linha daquilo que já falámos há pouco, obviamente, e eu sei bem porque eu vou buscar estes vídeos um bocadinho, até para ensinar os meus alunos.
00:17:54:23 – 00:18:14:13
JOAQUIM FERREIRA
O presidente Biden caiu de bicicleta uns meses antes. Estavam os jornalistas. Ele parou, desequilibrou se, a bicicleta caiu. Presidente Biden é a subir as escadas do esforço do avião presidencial, tropeçou e caiu. Se olharmos para o presidente, pai dele, está a andar mais devagar. Claramente já.
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JORGE CORREIA
Não levanta tanto os joelhos, os.
00:18:16:11 – 00:18:43:20
JOAQUIM FERREIRA
Passos são mais pequenos, está mais lento a movimentar se e mesmo para o não perito, percebe que há ali algum desiquilíbrio. É quase como se nós fossemos lá dar um encontrão, provavelmente ele desequilibrar se ia esta e outros aspetos. Em alguns momentos parece que teve algum comportamento de maior desinibição num contexto social em que estava, inclusive com pessoas com que provavelmente não teria familiaridade.
00:18:43:24 – 00:18:45:12
JORGE CORREIA
Portanto, com um filtro mais baixo.
00:18:45:18 – 00:19:15:01
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, eu diria a alguém que alguém cuja memória está menos boa, alguém que tem 80 anos, cuja memória de vez em quanto leva o a pregar umas partidas, que em alguns combates fica desorientado. Alguém que de repente na rua perde o norte, numa zona que conhecia muito bem, está a andar mais devagar que de vez em quando cai, cujo comportamento em contexto social é diferente daquilo que tinha se calhar uns meses há uns anos antes.
00:19:15:03 – 00:19:48:15
JOAQUIM FERREIRA
Esse conjunto de coisas deve nos fazer suspeitar de que é uma doença assim. E, portanto, como é que o neurologista, que ainda por cima trabalha nesta área, olha, olha com preocupação e de alguma forma, para mim era óbvio que aquela conjugação de queixas, de sintomas, de sinais indiciavam de facto algum declínio. E, obviamente, perante uma entidade tão grande responsabilidade, obviamente não faria sentido, no fundo, exigirmos que alguém em que aquela conjugação de sinais, tão presente no fundo, mantivesse aquele tipo de atividade.
00:19:48:17 – 00:20:09:15
JORGE CORREIA
E nota se na linguagem também eu estou a perguntar isto por uma razão porque nós vimos o debate com Joe Biden. Lá está a falar mais devagar e mais pensativo, quase mais introspectivo e dois dias depois, seguramente com o apoio de um teleponto. Provavelmente isso, mas que voltou outra vez a fazer um discurso brilhante, como sempre fez.
00:20:09:17 – 00:20:47:21
JOAQUIM FERREIRA
O nosso cérebro e a forma como funciona é flutuante. Mesmo as pessoas que nós conhecemos que têm doença de Alzheimer e de doença diagnosticada e que de facto têm momentos de grande limitação, tem momentos de grande acutilância. E quem ouvir esta nossa conversa que de facto, pessoas mais velhas em casa com o diagnóstico e que obviamente vive essa crueldade na realidade, pessoas de quem gostamos, mas que é um declínio, vão reconhecer que aquilo que eu digo que mesmo alguém que já tem dificuldade vem no fundo de evocar o nome dos familiares, às vezes num contexto, numa conversa, expressa se numa forma muito acutilante, muito no ponto, muito sagaz.
00:20:47:23 – 00:21:08:03
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, o nosso cérebro também funciona de uma forma flutuante e, portanto, podemos estar menos bem no momento e uns minutos depois, umas horas depois ou num dia diferente, de facto, mais em forma. Portanto, essa flutuação faz parte da forma como o nosso cérebro funciona, Mas isso nós sabemos que é assim. Quem obviamente trabalha nesta área tem e tem essa noção e aumenta o grau desde que.
00:21:08:03 – 00:21:38:01
JOAQUIM FERREIRA
A questão é que o grau de exigência que se coloca a alguém que tem as responsabilidades do presidente de uma qualquer nação, obviamente é diferente do cidadão comum, que pode, obviamente, manter a sua autonomia, ter a sua vida familiar e profissional minimamente funcionante, mesmo com algum declínio. A pessoa ter um declínio cognitivo numa casa que esteja doente e mesmo as pessoas com demência, mesmo pessoas com doença de Alzheimer, mantêm podem manter algumas capacidades, inclusive de interferir em decisões familiares perfeitamente.
00:21:38:01 – 00:22:09:19
JORGE CORREIA
Estou me a lembrar de um livro que depois de um filme chamado Este país não é para velhos e fiquei a pensar se é esse e essa consciência do passar do tempo e da maneira como as coisas nos nos afetam. A nossa, o nosso, o nosso cérebro. Se. Poderíamos ou não temos ética em determinadas funções sociais ou profissões, ter limitação de idade ou obrigação de fazer alguns testes.
00:22:09:21 – 00:22:31:18
JOAQUIM FERREIRA
E eu acho que tudo que fazemos aqui conversar obriga nos a repensar imensas coisas, mas que deve ter outro sentido. Um bocadinho ao contrário. Estávamos aqui ambos a concluir que o exercício era importante. Se isso é importante, quase como entre aquelas intervenções que claramente pode atrasar o aparecimento destas doenças neurodegenerativas, então devemos mantermo nos o mais ativos possível.
00:22:31:20 – 00:22:37:24
JOAQUIM FERREIRA
A outra coisa que é importantíssima é a socialização e o convivermos intelectualmente, conversarmos os dois, irmos ao cinema e lemos um livro.
00:22:38:01 – 00:22:39:02
JORGE CORREIA
Também nos defende isso.
00:22:39:02 – 00:22:49:20
JOAQUIM FERREIRA
A socialização é uma forma de treino cognitivo, treino do cérebro, portanto, a atividade física é importante. O estímulo cognitivo e o treino cognitivo também é importante.
00:22:49:20 – 00:22:59:03
JORGE CORREIA
Portanto, ao contrário, se ficarmos isolados e quietos, a probabilidade de você ler a palavra definhar mais e.
00:22:59:03 – 00:23:16:18
JOAQUIM FERREIRA
Mais destes sintomas aparecerem mais cedo é maior. Agora, o que é que nós fazemos como sociedade? Nós reformamos as pessoas? Isto é inacreditável. Nós já sabemos que estas coisas são boas. Pegamos em alguém que tem 70 anos ou 157 dizendo se formos agora, vai.
00:23:16:20 – 00:23:18:05
JORGE CORREIA
Ser quase um atestado de inutilidade em.
00:23:18:06 – 00:23:54:10
JOAQUIM FERREIRA
Toda não prescrever quase uma receita que induz doença exatamente ao contrário. E dizer assim as rotinas que o obrigam a sair de casa, estar no emprego às 08h00, resolver problemas, escrever coisas e, no fundo, estar ativo. Mas conviver com os colegas tanto socialização é bom, deixou de acontecer e ainda por cima merecemos tudo o que nós estamos a dizer nos grupos de maior risco em que o acontecer desta imobilidade e desta diminuição da socialização causa mais problemas quando nós socialmente colocamos essa chancela.
00:23:54:10 – 00:24:08:21
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, nós, sem termos muita noção, estamos. Ainda por cima, a reforma, nomeadamente no modelo social português, é muito dicotómico. Ou trabalhamos ou não trabalhamos o nosso modelo social, O nosso modelo de segurança social.
00:24:08:21 – 00:24:10:00
JORGE CORREIA
Não tem degrauzinho.
00:24:10:02 – 00:24:24:24
JOAQUIM FERREIRA
Está a trabalhar, está formado, não tem degraus, não tem degraus e portanto nós estamos a fazer mal às pessoas por uma decisão social que ter de ser uma questão de conforto, que a pessoa nos vai fazer as coisas que nunca fez. Mentira.
00:24:24:24 – 00:24:28:18
JORGE CORREIA
Tem se o tempo todo para fazer. Tens o rendimento aqui vai se vai fazer.
00:24:28:20 – 00:24:57:08
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, um modelo, tanto um modelo de intervenção social em que as coisas fossem uma gradação. E obviamente vamos manter as pessoas, não vamos manter um contributo positivo, vamos manter. Há uma história nas instituições e, portanto, estamos a desaproveitar, por um lado, o conhecimento e, por outro lado, estamos a aumentar o risco de induzir a doença. Portanto, é algo, eu diria, quase trágico do ponto de vista de movimento social.
00:24:57:09 – 00:25:21:03
JORGE CORREIA
Eu tenho uma curiosidade que é nós estamos na sociedade da performance, do mais rápido, do mais produtivo, do mais eficiente, do mais eficaz e, portanto, a existência de uma aceleração disto. O nosso cérebro gasta se com essa aceleração ou é completamente independente da maneira como ele funciona e vai funcionando?
00:25:21:05 – 00:25:27:18
JOAQUIM FERREIRA
Não sabemos totalmente. A pergunta é o cérebro estragas tudo? Esse estímulo, esta.
00:25:27:18 – 00:25:38:08
JORGE CORREIA
Alta competição, no fundo é como os músculos e os pés dos futebolistas que não finda no fim da carreira. Estão aí. Jesus e a nossa cabeça pode queimar entre aspas.
00:25:38:10 – 00:26:03:15
JOAQUIM FERREIRA
E diria, é a melhor informação científica que temos. Sugere que não. Neste sentido que é quem é mais estimulado, quem é quem, no fundo tem que tem que ter, tem que tem que produzir mais usando o mesmo cérebro está e resultar um prejuízo, ou seja, se este se esgotava mais cedo. Isto aplicado ao coração. Há quem ache que o número de batimentos cardíacos é finito, portanto não devemos fazer exercício, porque quando fazemos exercício aumenta a frequência cardíaca.
00:26:03:18 – 00:26:19:11
JOAQUIM FERREIRA
Convém poupar, Portanto, se gastarmos mais cedo os batimentos que temos, morremos mais cedo e, portanto, não o serve primeiro. Isto não se aplica ao coração, não é verdade? Mas há quem defenda essa possibilidade. Há aqueles que são avessos a fazer atividade física. É boa.
00:26:19:11 – 00:26:19:23
JORGE CORREIA
Desculpa.
00:26:19:23 – 00:26:44:00
JOAQUIM FERREIRA
Se isto se aplica, se isto se aplica ao cérebro, que não que saibamos quando há outros fatores que muitos desses fatores induzem e diria doença mental. Sim, não é tudo estudo. Esse grau de exigência pode levar a quadros de perturbação da ansiedade ou quadros depressivos. Tentamos a doença e a doença, pois interfere com a nossa performance? Claro que sim.
00:26:44:04 – 00:26:57:17
JOAQUIM FERREIRA
E a doença é um fator de risco para essas outras coisas. Indiretamente, sim, diretamente. Que saibamos com os melhores dados científicos que temos. Não podemos continuar a usar o cérebro na nossa plenitude, mesmo de tal forma acelerada que pense no.
00:26:57:17 – 00:27:23:01
JORGE CORREIA
Que é o que é extraordinário quando nós. Este é um programa sobre sobre comunicação e o que é que tem de ser Uma curiosidade iniciática sobre o nosso cérebro desde tenra idade começa a guardar palavras e a juntar palavras e frases e entender o significado sobre as coisas de que a gente guarda exactamente as palavras. Onde é que elas estão, como é que funciona estas gavetas, como é que há.
00:27:23:01 – 00:27:46:09
JOAQUIM FERREIRA
Coisas que estão de facto guardadas em gavetas e, portanto, há um espaço que nós sabemos mais ou menos o que é que lá acontece. Como é que nós sabemos isso? Sabemos desde há muitos, muitos anos. O que acontecia era que quem tinha uma lesão cerebral, um acidente vascular, um tumor ou mesmo um acidente, um traumatismo, alguém que tinha de repente vemos com uma seta espetada na cabeça.
00:27:46:11 – 00:28:00:14
JOAQUIM FERREIRA
Nós fazíamos a correlação entre se a lesão está neste sítio, se ela de repente deixou de falar. Portanto, a fala tem a ver com isto. Hoje temos muito mais tecnologia e conseguimos fazer isso com PACs e ressonâncias e mesmo estudos. Ainda mais. É ainda mais dinâmico.
00:28:00:14 – 00:28:04:06
JORGE CORREIA
Consegue se ver a iluminação, umas luzinhas dentro da nossa cabeça, consegue.
00:28:04:06 – 00:28:33:15
JOAQUIM FERREIRA
Perceber qual é que é a área hoje? Conseguimos, Conseguimos ter luz é sinal de sinal, é mais o termo. Mas de facto o que também sabemos é que muita da informação está em ritos, tal como acontece em outros sítios. Não estão distribuídas, são conexões, são que são conexões. Há um conjunto de eixos nervosos que ligam uma estrutura à outra, mas nós hoje temos forma de inclusive ir lá tratar mais uma vez, usando aqui a doença em que que mais?
00:28:33:15 – 00:28:38:22
JOAQUIM FERREIRA
Em que o mais trabalho, que é a doença de Parkinson. Nós hoje temos técnicas que nós chamamos de estimulação cerebral profunda.
00:28:39:00 – 00:28:39:14
JORGE CORREIA
Diretas.
00:28:39:17 – 00:29:01:12
JOAQUIM FERREIRA
E vamos colocamos um estilete, um demos com um fio muito fininho que na ponta tem uns pontos, tanto um estímulo elétrico e nós vamos interromper circuitos e ao interrompermos circuitos, nós quando ligamos a bateria interrompe um circuito e a interrupção no circuito induz um benefício. Se eu tivesse doença de Parkinson e se tivesse um desse tratamento? E se a minha doença se manifestasse por tremor?
00:29:01:14 – 00:29:09:13
JOAQUIM FERREIRA
Se eu tivesse a bateria ligada, o tremor estava controlado, não tremia. Eu desliguei a bateria e ao fim de um ou 2/2 e estou a tremer muito.
00:29:09:15 – 00:29:12:12
JORGE CORREIA
Consegue se descobrir já essas zonas dessas impressoras.
00:29:12:12 – 00:29:25:00
JOAQUIM FERREIRA
Portanto nós temos de facto zonas onde essas funções estão mais guardadas e nós sabemos isso. Por isto que se houver uma lesão, aquilo deixa de acontecer. A produção da palavra, por exemplo, o compreender a palavra oral, o que é dito Porque?
00:29:25:00 – 00:29:25:10
JORGE CORREIA
Porque já há.
00:29:25:10 – 00:29:43:09
JOAQUIM FERREIRA
Sítios falantes, preferenciais onde os sons nesses sítios nós perdemos essa capacidade. Mas depois muitas das outras funções têm a ver com estas conexões, tanto com a ligação entre um núcleo com o outro. Portanto, eu diria que a base tem dois mecanismos coisas mais localizadas e coisas um bocadinho de transmissão de informação dentro do ser.
00:29:43:11 – 00:29:55:10
JORGE CORREIA
Isso explica porque, Provavelmente porque é que é mais fácil para nós aprender. Não é só uma língua ou qualquer outra coisa mais facilmente quando somos mais novos, são de onde essas ligações estão aí, mais activas, mais frescas, mais possíveis.
00:29:55:10 – 00:30:19:14
JOAQUIM FERREIRA
As nossas aptidões são diferentes e, obviamente, a aquisição de um conjunto, digamos, de capacidades, eu diria, é mais fácil em idades de facto mais jovens. A questão da aquisição de uma nova língua, obviamente é importante. Mas, mais uma vez, o que nós temos de aprender nesses últimos anos é que é possível. A plasticidade neuronal é muito mais permanente ao longo da vida do que nós pensávamos.
00:30:19:16 – 00:30:51:08
JOAQUIM FERREIRA
Quando eu aprendi neurologia, quando alguém tinha um acidente vascular e tinha, ficava com menos força num braço, numa perna, no fundo. Tínhamos muito enfoque na reabilitação nos primeiros três meses depois do acidente, mas quando era mais jovem, era quase como o potencial de reabilitação. Acontece que temos que aproveitar aquela janela. Nós sabemos que ao longo de toda a vida, hoje sabemos que o potencial de modular, de alterar estruturas cerebrais no sentido de compensar um defeito acontece ao longo de toda a nossa vida.
00:30:51:13 – 00:30:51:23
JORGE CORREIA
Já que estamos.
00:30:51:23 – 00:31:24:22
JOAQUIM FERREIRA
A falar, obviamente das crianças. É mais ágil e o problema de recuperação é maior. Mas mesmo nas pessoas com 40, 50 anos, esse potencial de reabilitação não é, portanto, mudar estruturas cerebrais com coisas periféricas. Eu mexer este braço faz com que a zona do cérebro responsável por este movimento vá mudando, neste caso no sentido de benefício. Sim, nós hoje e as coisas absurdas que nós fazemos, nós prescrevemos, nós prescrevemos o sistema e muitos dos sistemas de reabilitação fisioterapia por sessões.
00:31:24:24 – 00:31:44:23
JOAQUIM FERREIRA
Hoje, a forma como nós tratamos as doenças não tem nada a ver com isso. É o brincar. Em tempos alguém, um doente, pode fazer 40 sessões de fisioterapia numa doença crônica e tem que fazer aquele tipo de intervenção que nós chamamos multidisciplinar ao longo de todo o curso. A doença, como a doença, não vai desaparecer, ele tem que manter.
00:31:45:00 – 00:31:48:21
JOAQUIM FERREIRA
Pode ser uma vez por semana, pode ser duas por mês. É uma coisa contínua, mas.
00:31:48:21 – 00:31:50:19
JORGE CORREIA
O sistema está preparado apenas para descrever.
00:31:50:22 – 00:32:19:21
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, prescrever 40, ter apoio para 40 sessões. Quer dizer, eu faço entre janeiro e abril, depois ficar espera por janeiro do próximo ano e repetir era o mesmo que alguém tomava aspirina. Eu tenho que tomar aspirina. Sempre tomo entre janeiro e Abril, pois para espanto, portanto. Mas nós às vezes aceitamos isto. Formar novos médicos como familiares doentes. A forma como hoje olhamos para o tratamento das doenças é totalmente diferente e num mundo muito mediático ainda acontecer.
00:32:19:21 – 00:32:31:10
JOAQUIM FERREIRA
Os Jogos Olímpicos há muito pouco tempo, muita da forma como nós hoje tratamos as nossas doenças degenerativas, Alzheimer tem a ver com o conhecimento que vem da área do desporto, das ciências, do desporto.
00:32:31:12 – 00:32:32:11
JORGE CORREIA
Por quê?
00:32:32:13 – 00:32:42:03
JOAQUIM FERREIRA
Porque as questões da intensidade, por exemplo, o tempo, a fisioterapia, o uso técnicas que são muito de treinar um atleta, incremento. Dois Aumentar a intensidade.
00:32:42:03 – 00:32:47:21
JORGE CORREIA
Porque estamos a aprender com o desporto de alta competição são coisas que podemos utilizar na nossa vida.
00:32:47:23 – 00:32:54:12
JOAQUIM FERREIRA
Muito claramente. Claramente. O que é que os atletas treinam? Padrões de movimento que os tornem mais.
00:32:54:12 – 00:32:56:12
JORGE CORREIA
Rápido, alta performance.
00:32:56:14 – 00:33:08:07
JOAQUIM FERREIRA
E, portanto, hoje os doentes são atletas nos aspectos físicos e, portanto. E há um ensinamento que também vem dessas áreas.
00:33:08:07 – 00:33:37:23
JORGE CORREIA
Claro que quando que estávamos a falar de falar de de quando alguma coisa corre mal e eu estava a pensar numa das doenças mais prevalentes em Portugal que são os AVC’s, vulgo tromboses, que as pessoas falam popularmente e em alguns casos as pessoas começam lá está, entra no ar as palavras não dizem e depois quando estão já em recuperação, não conseguem dizer determinadas palavras, não conseguem construir frases mais complexas.
00:33:38:00 – 00:33:48:03
JORGE CORREIA
Passadas umas semanas ou uns meses, parece que há ali uma recuperação e que se vai buscar ali ao baú umas palavras. E de essa plasticidade de que estamos a falar.
00:33:48:09 – 00:34:15:05
JOAQUIM FERREIRA
É também também no fundo, é quase fazer com que o cérebro vá buscar zonas saudáveis para substituir zonas doentes que deixaram de cumprir aquela função e, portanto, pode haver uma melhoria ao longo do tempo. Para além dos tais três meses que mencionei. Sim, e não estamos ali, não temos as armas que gostaríamos para ter uma recuperação total na maior parte dos doentes, nomeadamente quando não há uma grande recuperação naquela fase inicial.
00:34:15:07 – 00:34:34:12
JOAQUIM FERREIRA
Mas, por exemplo, a questão da terapia da fala, tanto o ajudar para que nós comuniquemos melhor por que é que as pessoas ficam com essa voz tramada? São duas coisas. Uma é a capacidade de articularmos as palavras. No fundo, a nossa caixa de som que produz o som correto. Mas também é irmos buscar ao cérebro as palavras certas.
00:34:34:18 – 00:34:44:04
JOAQUIM FERREIRA
Eu estar a olhar para este microfone e chamar a isto microfone, não chamar outra coisa. Eu até sei que isto é o microfone, mas eu posso chamar outro termo, tal chamada alteração da linguagem.
00:34:44:06 – 00:34:46:13
JORGE CORREIA
Precisamos dos significados e dos significantes.
00:34:46:13 – 00:35:10:08
JOAQUIM FERREIRA
E eu sim, precisamos de eu sei o que é que este objeto é, pois o cérebro tem que ir, ok? A gaveta que me permite fazer a correlação entre o meu reconhecimento desta imagem é exatamente a palavra microfone. É por ser capaz de expressar toda esta interligação. Uma das coisas mais cruéis em relação a que as pessoas têm acidentes vasculares cerebrais e manterem a sua capacidade cognitiva continuam inteligentes.
00:35:10:11 – 00:35:11:07
JORGE CORREIA
É pensar mais.
00:35:11:07 – 00:35:17:19
JOAQUIM FERREIRA
E menos, mas não conseguirem compreender aquilo que ouvem oralmente. Estamos aqui a falar. Eu sei que está a falar.
00:35:17:19 – 00:35:19:05
JORGE CORREIA
Para mim isto é profundamente angustiante.
00:35:19:05 – 00:35:40:21
JOAQUIM FERREIRA
Que está a falar das coisas mais difíceis que eu ainda me recordo, dos doentes que vi ao longo destes anos. É um doente que está numa instituição que tem uma afasia. Tem a tal alteração da linguagem, alguém que está bem do ponto, vista intelectual, cognitivo. O que ele tem, de facto, é uma incapacidade de perceber aquilo que lhe é dito oralmente.
00:35:40:23 – 00:36:02:21
JOAQUIM FERREIRA
E as pessoas que o rodeavam não achavam que eu estava doente. Achavam que não era apenas a incapacidade de compreender a informação verbal oral que ele sonhava. Agora imagine, não é? Nós não conseguimos comunicar ao outro que a minha dificuldade é apenas uma questão de interpretar o som e perceber o que é dito. Mas eu sei onde é que estou.
00:36:02:23 – 00:36:03:19
JOAQUIM FERREIRA
Eu estou bem.
00:36:03:21 – 00:36:05:11
JORGE CORREIA
E não consigo explicar aos outros.
00:36:05:11 – 00:36:07:13
JOAQUIM FERREIRA
Entendeu bem? É duma duma.
00:36:07:17 – 00:36:08:09
JORGE CORREIA
Aflição.
00:36:08:10 – 00:36:20:10
JOAQUIM FERREIRA
Exactamente isso tem a ver com ver contém ver com a razão, termos interesse em nós, estarmos atentos, estarmos curiosos. Não é percebermos que há ali qualquer coisa que não encaixa e depois tentarmos, obviamente, fazer bem e ajudar o outro.
00:36:20:10 – 00:36:44:11
JORGE CORREIA
O cérebro é seguramente auto construtivo. Nós dizemos eu é o meu corpo e não dizemos o meu coração e o meu cérebro é quase e identitário. E é no cérebro que se guarda a nossa identidade. Eu estou sempre a pensar o cérebro por um lado, a mente, por outro é a alma. Esta lá está uma santíssima Trindade.
00:36:44:13 – 00:37:12:09
JOAQUIM FERREIRA
Eu sou neurologista, portanto tenho aqui uma particular PIC pelo cérebro, não é? Tivemos aqui um colega cardiologista. Ele ia pôr um enfoque no coração e assim, de facto, o cérebro é o órgão que comanda todos estes aspectos cognitivos de coordenação de e, portanto, claramente eu diria pelo menos é o mais bem posicionado. O que quer que seja isso da consciência e da alma, é o mais bem posicionado para ter essa responsabilidade sobre isso.
00:37:12:09 – 00:37:15:13
JORGE CORREIA
É uma consciência. O que é que é a consciência?
00:37:15:15 – 00:37:24:11
JOAQUIM FERREIRA
A consciência são. Sai um bocadinho fora de campos daquilo que são estas funções cognitivas que eu estava aqui a falar.
00:37:24:12 – 00:37:27:14
JORGE CORREIA
É só a biologia que conta.
00:37:27:16 – 00:37:45:09
JOAQUIM FERREIRA
Depende das nossas convicções e convicções que são poderosíssimas. Depende das nossas convicções. Isso quer dizer que esta conversa para as questões, inclusive as espirituais. Há estudos engraçados que dizem que rezar, rezar em benefício do outro funciona, Tentar aquilo que nós somos é.
00:37:45:09 – 00:37:47:20
JORGE CORREIA
Também um exercício. De alguma maneira.
00:37:47:22 – 00:38:20:05
JOAQUIM FERREIRA
Nós já nos estudos de síntese, que vão sintetizar a melhor informação disponível e que de facto concluem que, no fundo, ter pessoas a rezar não é em benefício de alguém, Isso acaba por funcionar. São áreas. Como é que o neurologista olha para isso? Que são eles um bocadinho desviantes daquilo que no fundo é o método experimental. Não é que aquilo que gera os dados que nos devem levar a tomar decisões o mais robustas possível, eu diria a melhor expressão que eu posso usar com respeito.
00:38:20:07 – 00:38:50:22
JOAQUIM FERREIRA
Não sendo o meu mundo, é sendo aspetos que eu diria um bocadinho fora daquilo que a minha área de competência maior, aquilo que eu aprendi neste em todos estes anos, é um enorme respeito e uma enorme É, Mas quem trabalha na área da farmacologia? Isto é uma coisa muito engraçada em farmacologia. Nos estudos que nós fazemos, nós comparamos um medicamento verdadeiro com um falso medicamento que nós chamamos placebo, um fundão a ter uma cápsula de farinha, Se acharmos que é farinha, não faz nada naquela doença.
00:38:50:22 – 00:38:56:20
JOAQUIM FERREIRA
Não é? Mas uma cápsula de farinha em algumas doenças é poderosíssima.
00:38:56:22 – 00:38:58:14
JORGE CORREIA
Apenas pelo ato do autoconvencimento.
00:38:58:19 – 00:39:18:24
JOAQUIM FERREIRA
Pelo ato que nós chamamos expetativa, que é a expetativa que eu tenho de que aquela cápsula que eu sei que pode tratar a doença dor ou a fibromialgia, ou a depressão, aquela cápsula que não tem nada lá dentro. Dito assim, desta forma, melhora imenso o sintoma que eu quero tratar.
00:39:19:04 – 00:39:21:11
JORGE CORREIA
Apenas por esse efeito de expectativa e sugestão.
00:39:21:11 – 00:39:25:11
JOAQUIM FERREIRA
Sim, mas é um efeito físico. Nós hoje, com as tecnologias que temos, é um.
00:39:25:11 – 00:39:25:19
JORGE CORREIA
Efeito.
00:39:25:19 – 00:39:45:22
JOAQUIM FERREIRA
Real, é um efeito real. Existem estudos muito interessantes feitos mais uma vez na doença de Parkinson. O que é que fizeram? Foram ver o que acontecia no cérebro quando os doentes tomavam um placebo. Um tal comprimido inerte e melhoravam e documentaram que existe de facto uma libertação de proteína que é o transmissor mais envolvido na doença de Parkinson.
00:39:45:24 – 00:40:11:01
JOAQUIM FERREIRA
Exatamente da mesma forma como existe quando usamos um medicamento real que de facto chega ao cérebro. Portanto, a expetativa de tomar um medicamento que melhore a minha doença, neste caso doença de Parkinson, liberta verdadeiramente o tal transmissor. Não é um ato de simpatia de o médico dar uma palmadinha nas costas. Neste momento é que é bom e portanto estou bem tratado e vou me sentir melhor.
00:40:11:01 – 00:40:15:09
JOAQUIM FERREIRA
Não? De facto, liberta a substância certa, o que é de facto.
00:40:15:09 – 00:40:45:03
JORGE CORREIA
Fantástico, que é extraordinário, seguramente, na área de competências que desenvolveu há uma discussão ética há muitos anos nas cidades modernas. Tem a ver com as fronteiras da vida e da morte. A primeira é que quando, quando se, enfim, quando se decidiu que a morte se declara, quando o tronco cerebral morreu, mas ainda não resolvemos o outro problema que é então é qual é o momento em que o cérebro passou a funcionar como?
00:40:45:03 – 00:40:53:01
JORGE CORREIA
Como vida? Como? Como é que? Como é que está essa? Essa discussão entre entre on off, ligado e desligado.
00:40:53:03 – 00:41:21:07
JOAQUIM FERREIRA
É um tema tão delicado e tão sensível que é muito difícil. É muito difícil. Primeiro, é uma pena que às vezes temos que ter a coragem, a sabedoria, dizer que não sabemos, não sabemos e, portanto, aqui a questão é num desenvolvimento do feto chegar a uma criança que está na qual é que é o momento de facto, em que, em que está esse mesmo switch, acontece o.
00:41:21:07 – 00:41:23:04
JORGE CORREIA
Momento zero.
00:41:23:06 – 00:41:40:01
JOAQUIM FERREIRA
O momento zero. Do ponto de vista alegria para um profissional de saúde, acaba por ser o momento do nascimento. Tudo o resto é uma área de enorme dificuldade de precisão, do tal ponto de vista dicotômico. E são áreas onde, claramente não dominando, prefiro não entrar.
00:41:40:02 – 00:41:48:15
JORGE CORREIA
É na parte final da nossa, da nossa existência. É mais fácil fazer essa determinação.
00:41:48:17 – 00:42:23:10
JOAQUIM FERREIRA
Temos regras bem definidas, que são regras que têm pelo menos a vantagem de serem consensualmente aceites por toda a comunidade científica. E, portanto, é o que eu digo quando temos, é sempre mais fácil fazer experimentação ou fazer investigação quando temos, no fundo, o sujeito da nossa experimentação connosco. Ou seja, é mais fácil aceder ao corpo humano. Então, uma pessoa que está em fim de vida do que estar a discutir, no fundo, que são os os mecanismos neuronais que estão na base de um ser que obviamente ainda temos um acesso por interposta pessoa, que neste caso, obviamente.
00:42:23:12 – 00:42:29:15
JORGE CORREIA
Que perguntas lhe faltam responder para o cérebro Tem uma lista? Tem.
00:42:29:17 – 00:42:55:21
JOAQUIM FERREIRA
São tantas que é melhor não listar. Pergunta A pergunta mais simples é voltando às bases nas bases. Eu sou médico, tenho essas responsabilidades académicas, Tenho que ajudar os meus alunos a crescer novamente? Tenho que fazer investigação na área onde trabalho, porque é esse conjunto que eu acho que me dá a competência depois para fazer as outras coisas bem, mas eu sou médico, não é, portanto, a minha preocupação principal.
00:42:55:21 – 00:43:04:11
JOAQUIM FERREIRA
Mesmo as coisas que eu faço quando eu estudei, ensino e do ponto vista de investigação, é para ajudar as pessoas e é bom que eu não me esqueça.
00:43:04:13 – 00:43:09:00
JORGE CORREIA
E é importante essa. Juntar a clínica com a investigação não.
00:43:09:00 – 00:43:28:02
JOAQUIM FERREIRA
É obrigatório, mas eu acho que é uma boa conjugação. Se a pessoa quiser manter atividade física. Nem todos os médicos, nem todos os médicos que fazem investigação têm que ter este perfil. Eu diria que estudar nesta vontade dá mais trabalho de fazer, por exemplo, mais coisas, mas permite se ter as dúvidas e colocar as perguntas para depois tentar responder.
00:43:28:02 – 00:43:36:07
JOAQUIM FERREIRA
Do ponto de vista de investigação, permite me ter a experiência daquilo que sobre o qual eu ensino e permite me ter acesso às pessoas.
00:43:36:09 – 00:43:45:01
JOAQUIM FERREIRA
As doenças, a maior parte das doenças e das pessoas com que eu me cruzo são doenças muito mais são doenças cruéis, são doenças que interferem, que fazem pessoas percam autonomia, percam.
00:43:45:01 – 00:43:45:22
JORGE CORREIA
Identidade.
00:43:45:24 – 00:44:05:11
JOAQUIM FERREIRA
E, portanto, há um declínio associado para a qual eu tenho algumas coisas para oferecer. Eu não tenho muitas, nem aquelas que eu gostaria de ter. Portanto, a minha prioridade primeira é ajudar a que rapidamente consigamos ter essas. Os meus objetivos são tão fáceis de listar. Atingi los é mais difícil.
00:44:05:13 – 00:44:18:08
JORGE CORREIA
Professor, muito obrigado por esta por esta conversa. Lá está, dois cérebros que tentaram comunicar pela linguagem, seguramente. E lá está, mexemos nos e lemos muitas coisas e falamos com muitas pessoas.
00:44:18:10 – 00:44:23:11
JOAQUIM FERREIRA
E temos de sair daqui agora, mexer nos rapidamente e correr para nos mantermos o mais saudável possível.
00:44:23:13 – 00:44:24:01
JORGE CORREIA
Muito obrigado.
186 tập
Manage episode 443122021 series 3444813
O cérebro humano e o seu funcionamento.
A caixa onde guardamos as palavras, os sentimentos e os movimentos.
O cérebro enquanto caixa de comando e guardador de memórias e identidades.
O cérebro que se molda plasticamente para compensar danos, bloqueios e faltas de ar.
O cérebro do juízo e da consciência.
Da alma ou apenas como fundação biológica.
Este “podcast” entra pelo ouvido, mas é aí, desse lado, processado na sua mente.
Daqui um perguntador que quis saber tudo dos saberes do neurologista Joaquim Ferreira.
Todos vimos o momento em que o atual presidente dos Estados Unidos bloqueou num debate vital com o seu oponente.
Em pleno direto Jose Biden como que congelou.
Ficou com ar vago e focado no horizonte.
E as palavras ficaram caladas.
Todo o debate foi marcado por este momento aflitivo.
Mas já antes houve sinais de alerta.
O tropeçar na escada do avião. O ficar parado como que desligado das pessoas que estavam em volta.
Sim, o movimento ou a alteração do movimento é porta de entrada para algo que se pode estar a passar no cérebro.
Todos sabemos como acabou esta história: Joe Biden abundou a corrida eleitoral.
Este foi o pretexto inicial para gravar uma conversa com o médico, investigador e professor Joaquim Ferreira. É neurologista.
Dedica-se a estudar o mais enigmático órgão que possuímos: o cérebro.
Oportunidade para aprender sobre a maneira como faz perguntas, como observa.
Vê-se como fica encantado com a maneira como o cérebro humano se adapta.
Como o sono, o exercício e estarmos simplesmente a conviver uns com os outros nos pode proteger das temíveis doenças neurodegenerativas.
Mas onde está a fronteira entre o normal envelhecimento e algo mais sério do que o lento gastar da nossa existência?
Como um alerta: a reforma é capaz de não ser a melhor receita para quem quer manter o cérebro a vibrar. Tal como dormir mal. Ou não falar com os amigos. Ou não mexer os músculos.
Uma conversa sobre comunicação, biologia e comportamento humano.
Está tudo dentro da nossa cabeça
Da dúvida nascerá a luz.
Perguntas que se fazem seguramente dentro da cabeça para responder ao infinito mistério do funcionamento do cérebro humano.
Todas as perguntas.
Como funciona, como carrega palavras e emoções.
Como nos faz sentir um eu e não o outro.
Onde começa e acaba de ter consciência de si próprio e do outro.
Talvez esta questão da identidade seja aquela que mais me perturba nos eventos ligados ao nosso cérebro.
Em muitas das doenças neurológicas perde-se o sentido do eu e a ligação aos outros.
E nesse momento a simples pergunta “quem és tu?” ou “quem sou eu?” Deixa de ser uma dúvida existencial e passa a ser um vazio insustentável.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:00:06 – 00:00:14:15
JORGE CORREIA
Joaquim Ferreira, neurologista, professor de neurologia, professor e doutor de neurologia. É um estudioso desta última fronteira. Nós sabemos muita coisa sobre muitos órgãos, mas o cérebro continua a ser um grande ponto de interrogação.
00:00:14:17 – 00:00:37:12
JOAQUIM FERREIRA
E esse termo estudioso é um bocadinho pomposo e diria que o professor é verdade. Actualmente o professor tem a responsabilidade de formar alunos, formar médicos. Na minha escola, na Faculdade de Medicina, tenho responsabilidades na farmacologia clínica e na neurologia e investigar muito. Imagino que quem tem um projeto académico é suposto deveria fazer uma troika com este termo Troika, troika que foi aplicado em Portugal.
00:00:37:12 – 00:01:09:19
JOAQUIM FERREIRA
Noutro contexto, troca a troika para um académico, médico e ser competente quando é suposto que eu saiba fazer bem aquilo que depois vou ensinar. Depois ensino bem os meus alunos e faço investigação porque ainda tenho a veleidade de achar que esta conjugação permite me formar melhores médicos e eu próprio, no fundo, ter um conjunto de competências que me levem a fazer melhor daquilo que é suposto a quem está na academia ensinar a ver o doente de forma competente e fazer investigação clínica científica Nas áreas onde trabalho.
00:01:09:21 – 00:01:31:07
JORGE CORREIA
Um perito em neurologia seguramente tem arte principal para fazer perguntas. De resto, os cientistas têm essa. Segue algum método para para fazer perguntas sobre sobre as coisas e sobre o cérebro? O que é que pergunta? Isto é curioso. É quase uma matrioshka que pergunta ao seu próprio cérebro como é que faz perguntas sobre o cérebro no geral do nosso, de toda a gente?
00:01:31:08 – 00:01:42:23
JOAQUIM FERREIRA
Ser médico obriga me a fazer perguntas. Cada pessoa que eu vejo é suposto saber um bocadinho porque é que a trouxe ali. O que é que tem, o que é que aquelas coisas justificam tanto? O simples exercício da medicina é um exercício de curiosidade.
00:01:43:04 – 00:01:45:22
JORGE CORREIA
Há perguntas fundamentais para se fazer um doente.
00:01:45:22 – 00:02:08:23
JOAQUIM FERREIRA
A primeira pergunta tem quase a ver com o jornalismo, que é deixar gente falar da primeira pergunta numa consulta médica. O primeiro tempo é o que é que o trouxe aqui? O que é que aconteceu desde a última vez que nos encontramos? Que é, no fundo, dar um tempo para aquilo que nós somos. Discurso espontâneo não é para que as pessoas nos digam aquilo que lhes vem à cabeça.
00:02:09:00 – 00:02:27:20
JOAQUIM FERREIRA
E é que é importantíssimo nós escutarmos de forma atenta. A primeira pergunta é deixar quem está do outro lado, seja doente, ou seja, uma pessoa que não tem doença nenhuma formal, mas tem uma razão que a traz a falar connosco, expressar se depois de um encadeamento de ideias aplica se à clínica. Como se aplica a ciência, como se aplica ao ensino.
00:02:27:24 – 00:02:49:02
JORGE CORREIA
E isso aplica se também. Quero imaginar que, mesmo antes de fazer uma pergunta verbal ou ouvir qualquer palavra no momento em que o doente entrou ali na porta do consultório, logo aí dá para retirar informação daquilo que que aquela pessoa pode trazer Imensas coisas.
00:02:49:04 – 00:02:56:18
JOAQUIM FERREIRA
Às vezes sinto me mal, pois o resto do tempo é um bocadinho teatro, porque aquele momento inicial já me deu imensas pistas sobre aquilo que vou decidir depois.
00:02:56:23 – 00:02:58:05
JORGE CORREIA
Já um clique.
00:02:58:07 – 00:03:31:04
JOAQUIM FERREIRA
Imenso dentro da neurologia, de como uma área que se chamam doenças do movimento. O que é que são as doenças de movimento? Que nomes de doenças devem ser Parkinson, tremor, doença, que não são, doenças, que dão uma lentificação do movimento ou geram movimentos anormais. Curiosamente, o jornal científico desta área, os artigos científicos vêm em papel, agora em formato digital, mas também têm vídeos, Ou seja, a forma de nós ensinarmos e de falarmos com os nossos colegas e explicarmos aquilo que vimos e mostrando vídeos em que é reportado o tal movimento normal.
00:03:31:04 – 00:03:33:23
JORGE CORREIA
Portanto, há uma interpretação no fundo do movimento.
00:03:34:00 – 00:03:49:03
JOAQUIM FERREIRA
É muito curioso que antes da pandemia tinha previsto dar uma aula a alunos internacionais de várias escolas médicas em que o tema era fazermos diagnósticos só por vermos os doentes andar melhor e fazer diagnósticos para vermos as pessoas andar.
00:03:49:04 – 00:03:49:22
JORGE CORREIA
Como é que esse início.
00:03:49:22 – 00:04:26:12
JOAQUIM FERREIRA
Tinha previsto e tinha previsto? Não foi nada. Portanto, eu estou aqui a confessar algo que tinha planeado e que acabou por não acontecer e que também tem a sua graça, que era a minha ideia aplicar nos alunos alunos internacionais. Era um congresso médico Internacional para alunos de Medicina, organizado pelos alunos da minha escola médica da Faculdade de Medicina e ala que eu tinha previsto pegar nos alunos, irmos para o metro, sentarmo nos e vermos as pessoas passarem por nós, caminharem e em função do tipo de andar, das alterações de marcha, da forma como caminhamos, nós aprendemos imenso sobre, no fundo, o estado de saúde das pessoas se não estiverem saudáveis, sobre a doença que gera
00:04:26:12 – 00:04:53:24
JOAQUIM FERREIRA
uma marcha que pode estar um bocadinho alterada, tem o mérito de que, como eu depois não ia falar com as pessoas, não e nunca confirmaria o diagnóstico. Portanto, que eu brigava com os alunos sem ter um fundo de verificação. Depois, se a minha hipótese não bate certo, mas sim, eu vou esperar todos os meus doentes à porta ou até fora da porta, porque muitas vezes têm que os ajudar a entrar, porque eles caminham de uma forma lenta a forma, a temperatura da mão.
00:04:53:24 – 00:05:21:01
JOAQUIM FERREIRA
Quando damos um aperto de mão, ensinamos imensas coisas. O som que produzimos quando caminhamos no fundo do arrastar de um pé no chão porque temos dificuldade de mover uma perna dá nos imensa informação, portanto. Sim, a não ser que esteja muito cansada, não esteja em forma, também nós estamos em forma. Fomos parar todos os meus doentes à porta e acompanho os e estou atento a tudo aquilo que resulta do contacto verbal, da marcha, do movimento, da temperatura da pele.
00:05:21:03 – 00:05:34:14
JORGE CORREIA
Lembro me agora. Tive um vislumbre da minha aldeia, da aldeia dos meus avós, de uma expressão que se usava, que é está tão velho que arrasta os pés que era. Lá estamos nós.
00:05:34:14 – 00:05:51:12
JOAQUIM FERREIRA
Está corretíssimo, está corretíssimo e é de facto o envelhecimento leva a uma lentificação do movimento. É uma lentificação da marcha sim. Se nós olharmos em fundo para toda a população mundial e formos medir a velocidade da marcha das pessoas à medida que envelhecem.
00:05:51:15 – 00:05:54:13
JORGE CORREIA
Tivemos as crianças que estão sempre a correr.
00:05:54:15 – 00:06:11:03
JOAQUIM FERREIRA
Nós envelhecemos, a velocidade do nosso andar vai diminuindo e depois o que é de facto é interessante, mas perigoso. Nós. É quase como se nós conseguíssemos prever o fim da vida só pela velocidade com que nos deslocamos. Movimento caminhando.
00:06:11:05 – 00:06:14:08
JORGE CORREIA
Não, não sei se há um estudo, mas haverá uma curva e uma curva.
00:06:14:10 – 00:06:34:14
JOAQUIM FERREIRA
Na largura, uma curva. Há uma curva para os homens, há uma curva para as mulheres e, portanto, isso é, isso é factual. Portanto, isso é a ciência. Eu depois brinco um bocadinho no hospital, desloco me muito rapidamente, as pessoas vêem me a correr e eu digo que a forma de combater a minha pressão natural para andando mais devagar foi de estar mais próximo de um fim de vida.
00:06:34:16 – 00:06:58:00
JOAQUIM FERREIRA
A nossa biologia é muito interessante. Não é só estarmos, não. É só que as pessoas mais velhas da aldeia que se lembram não era só andarem mais devagar. Há outras coisas que também acontecem. Pessoas passam andar mais devagar, passam a ficar mais esquecidas, ficam um bocadinho baralhadas, têm umas brancas, algumas têm um comportamento um bocadinho normal, ser um bocadinho mais aluado, mais diferente.
00:06:58:05 – 00:07:12:16
JORGE CORREIA
Onde é que está a fronteira entre o normal envelhecimento com essa lentificação do movimento, essa palavra que se esqueceu o nome que que foi trocado para um advento de uma doença.
00:07:12:18 – 00:07:33:16
JOAQUIM FERREIRA
Há uma forma muito simples, que é quando isso interfere naquilo que é função que nós devíamos fazer naquela idade, passa a ser doença. Ou seja, quando uma coisa é uma característica, não é presente que estamos aqui a dizer eu estou. Na medida que envelhecem, têm características diferentes, ficam com rugas e as rugas do ponto de vista mais a andarem um pouco mais devagar.
00:07:33:18 – 00:08:05:05
JOAQUIM FERREIRA
O que é doença? É doença quando de alguma forma condiciona o desconforto, o sofrimento, a perda de funcionalidade. Quando uma coisa é uma pessoas perderem a autonomia, então é bom que alguém com 85 anos ou 90 anos consiga deslocar se, consiga gerir os seus bairros, vai conseguir gerir as suas propriedades. Depois, em termos matemáticos, nós usamos no fim dos anos médias e usamos uns desvios e obviamente, consideramos doença aquilo que está um bocadinho desviante daquilo que é o padrão mais frequente da maior parte das pessoas naquela idade.
00:08:05:07 – 00:08:10:03
JORGE CORREIA
Portanto, em princípio, o envelhecimento não é uma doença em si mesmo.
00:08:10:05 – 00:08:11:10
JOAQUIM FERREIRA
Não é uma doença.
00:08:11:12 – 00:08:12:09
JORGE CORREIA
É uma condição humana.
00:08:12:10 – 00:08:29:15
JOAQUIM FERREIRA
É uma mudança de uma característica biológica que de facto tem esta variável, que é o tempo. E o tempo é inexorável. O tempo vai progredindo, nós não conseguimos fazer com que o tempo ande para trás. Mas é essa observação muito perspicaz que faz depois. Tem imensas implicações, mesmo do ponto de vista científico.
00:08:29:16 – 00:08:31:09
JORGE CORREIA
Então vamos ramifica las.
00:08:31:11 – 00:08:52:14
JOAQUIM FERREIRA
Uma coisa muito simples e nós temos imensa dificuldade a tratar muitas doenças em que a idade de facto é o fator de risco principal e algumas, infelizmente são doenças em que o trabalho por causa de Alzheimer. A doença de Parkinson Ainda hoje estava num evento na faculdade de Ciências em que se falava de exercício e falava se da importância, no fundo destas, destas atividades.
00:08:52:16 – 00:09:19:14
JOAQUIM FERREIRA
E eu alertava a toda a gente que é fundamental pensarmos nestas intervenções terapêuticas não farmacológicas. O exercício, porque o número de pessoas com estas doenças cruéis, como o Alzheimer e a doença de Parkinson, vão aumentar nos próximos anos e nós temos que fazer o máximo possível para que o atrasarmos o seu aparecimento, o que idealmente não aconteça. Mas voltando à idade, a idade, de facto, é o fator de risco principal para que estas doenças apareçam.
00:09:19:16 – 00:09:38:15
JOAQUIM FERREIRA
E nós temos nós. Comunidade científica tem tido imensa dificuldade em ter bons tratamentos para estas doenças. Nós temos tratamentos que melhoram um bocadinho os sintomas da doença de Parkinson, que melhoram muito os sintomas, mas não temos nenhum tratamento, o que impeça que elas começam ou que, uma vez começando, atrasem a sua evolução, tanto que evoluam, progridam de forma mais lenta.
00:09:38:15 – 00:10:02:04
JORGE CORREIA
Isso é muito curioso, porque se nós olharmos para outros órgãos, para o coração, para o fígado, para os rins, o número de opções vão sempre melhorando. Hoje já se fala, não sei se no universo do desejo, da fantasia ou da realidade, já há de ter umas células, linhas de substituição, umas células estaminais que a gente possa ir lá fazer uns remendos.
00:10:02:06 – 00:10:15:05
JORGE CORREIA
O que raio tem o cérebro para ser assim tão difícil de deixar entender o seu mecanismo e de abrirmos portas para a gente conseguir apertar com a parte que eu chamo de parafusos?
00:10:15:07 – 00:10:26:02
JOAQUIM FERREIRA
Tem toda a razão. As doenças cerebrais. Tem sido mais difícil encontrarmos bons tratamentos, mesmo comparando com outras doenças também cruéis do cancro. Estes últimos anos o progresso no tratamento do cancro foi enorme.
00:10:26:04 – 00:10:28:07
JORGE CORREIA
Então o que é que o cérebro tem que.
00:10:28:09 – 00:10:36:02
JOAQUIM FERREIRA
Nós sabemos menos sobre o mecanismo da doença, isto é, quando coisas como temos uma avaria lá em casa, não é mais fácil resolver. Se a gente souber onde é que está o furo.
00:10:36:02 – 00:10:43:00
JORGE CORREIA
E também, como até agora havia muito poucos doentes em comparação na população, nós morríamos mais cedo.
00:10:43:02 – 00:10:49:04
JOAQUIM FERREIRA
É verdade mesmo. Já há muitos anos que temos muita gente em idade de ter estas doenças. Já não é por falta de população para.
00:10:49:04 – 00:10:50:16
JORGE CORREIA
Estudar, Então é o próprio órgão que é.
00:10:50:16 – 00:11:06:01
JOAQUIM FERREIRA
Deficiente, oxidado. A complexidade da causa que está na base do aparecimento dos sintomas, algumas doenças de outros órgãos. Nós sabemos que há ali um anticorpo que encaixa numa determinada superfície.
00:11:06:05 – 00:11:06:23
JORGE CORREIA
Descobrimos um bem.
00:11:06:24 – 00:11:11:13
JOAQUIM FERREIRA
Nós conseguimos ir lá, interromper aquilo é apenas um fator ou dois fatores.
00:11:11:15 – 00:11:12:19
JORGE CORREIA
E os nossos neurónios.
00:11:12:21 – 00:11:40:11
JOAQUIM FERREIRA
São muitos fatores e nós não os conhecemos. E nós só desenvolvemos medicamentos para os mecanismos que conhecemos. Nós não temos capacidade de desenvolver um medicamento para coisas que nós não sabemos que são importantes. Mas voltando ao envelhecimento, o problema do cérebro é que o fator principal que condiciona o aparecimento destas coisas, mas é de facto a idade. Ou seja, se eu começar com doença de Parkinson aos 50 ou aos 55 e depois aos 65, as coisas mais vão acontecer mais tarde, mais ou menos na mesma idade.
00:11:40:11 – 00:11:58:09
JOAQUIM FERREIRA
Ou seja, o relógio biológico é poderosíssimo que nós, para podermos de facto atrasar estas doenças, de aparecerem coisas que tínhamos que mexer no relógio e mexer no relógio da vida do tempo é muito mais difícil do que ter um anticorpo que se vai ligar a uma determinada substância e impede o aparecimento de uma doença muito difícil.
00:11:58:12 – 00:12:14:13
JORGE CORREIA
Se nós estamos a olhar para determinadas doenças do cérebro que se manifestam, tem como sintoma o movimento, o movimento, a ginástica, a piscina, a dança, o passeio podem ajudar a tentar parar isto um bocadinho.
00:12:14:13 – 00:12:25:16
JOAQUIM FERREIRA
São importantíssimos. É uma coisa que nós fazemos há milhares de antes de olharmos assim um bocadinho de soslaio. É verdade, pensamos que era assim uma coisa quase recreacional, Não é? Como que vai ao cinema.
00:12:25:16 – 00:12:27:09
JORGE CORREIA
É divertido não pensar mais nisso.
00:12:27:12 – 00:12:42:23
JOAQUIM FERREIRA
É muito curioso, até porque estamos a falhar no desenvolvimento medicamentos. Temos que nos voltar. Os médicos também têm os seus truques e os cientistas também têm os seus truques. E, obviamente, como estamos a falhar um bocadinho o desenvolvimento de medicamentos, vamos por outro caminho de doenças. O que é que nós podemos usar que talvez funcione de facto, o exercício.
00:12:43:00 – 00:13:07:05
JOAQUIM FERREIRA
A física funciona e funciona e é muito curioso e útil do ponto de vista dos aspetos motores, o andar, a postura. Mas também é útil do ponto de vista dos aspectos cognitivos e comportamentais. O exercício melhora a ansiedade, melhora a depressão e também melhora aspectos cognitivos. E ainda é muito engraçado porque é consegue também dominar alguns aspetos que tem a ver com a indústria farmacêutica e os medicamentos.
00:13:07:07 – 00:13:21:11
JOAQUIM FERREIRA
Nós, na parte farmacológica, queremos ter medicamentos que são muito específicos, que atuam naquele recetor e que a gente consegue controlar tudo. O exercício é exatamente o oposto disso. O exercício é uma coisa que atua em várias zonas do cérebro, que não é nada específico.
00:13:21:11 – 00:13:23:14
JORGE CORREIA
É holístico, quase.
00:13:23:16 – 00:13:57:18
JOAQUIM FERREIRA
Nós temos em farmacologia um termo que eu vou ter que inglês, que drugs, drogas sujas, medicamentos sujos porque? Porque não são muito específicos, atuam no recetor, no receptor, bem no receptor. Vê? Isso é spam. Farmacologia é uma heresia, uma coisa má. Por que a gente perde o controlo? O exercício é uma tratamento, mas faz bem, portanto, e quase questiona muitos dos princípios que de alguma forma norteiam quem, como eu, exposto, desenvolver e criar medicamentos para tratar as doenças, ou seja, extremamente eficaz.
00:13:57:19 – 00:14:17:13
JORGE CORREIA
Olá, Vamos então Paz aos saberes da antiguidade. Bem alimentar, bom sono, bom exercício. O sono também conta. Estou a pensar porque a nossa vida hoje é cada vez mais apressada. A nossa qualidade de sono eh recente, temos telemóveis a noite e por aí fora. Dormir bem e protetor.
00:14:17:17 – 00:14:39:21
JOAQUIM FERREIRA
É também uma redescoberta. Mas os antigos já o diziam, não é? Portanto, sim, o sono faz parte da lista dos fatores que são fundamentais para para um bom estado de saúde e provavelmente por uma boa qualidade de vida. Não só no sentido que dormir bem também nos causa coisas boas, coisas muito simples. Não dormirmos bem se tivermos um sono fragmentado no dia seguinte, estamos mais cansados.
00:14:39:23 – 00:15:08:17
JOAQUIM FERREIRA
A nossa performance profissional e menos boa até a parte cognitiva fica menos boa. Portanto, um sono de má qualidade diminui as nossas capacidades cognitivas. Sim, mas o sono é muito engraçado também. Sob muitos aspectos, o sono é um marcador do aparecimento futuro de doenças. Algumas alterações do sono que se alguém tiver aos 40 anos, aos 45, o risco de passar de 15 anos, ter uma doença neurodegenerativa elevadíssima.
00:15:08:19 – 00:15:10:13
JORGE CORREIA
E conseguimos medir isso, conseguimos medir.
00:15:10:13 – 00:15:14:05
JOAQUIM FERREIRA
Basta perguntar como é que eu estou hoje? É melhor eu não dizer.
00:15:14:07 – 00:15:14:20
JORGE CORREIA
Para não assustar.
00:15:14:20 – 00:15:37:02
JOAQUIM FERREIRA
As pessoas, Ninguém. Mas sim, há algumas características do sono que o médico na consulta, fazendo um questionário, consegue identificar e que são de facto um fator, diria preditor enorme, porque algumas doenças podem surgir no futuro. Sim, quando o sono é mais um daqueles aspetos de que na medicina e na ciência tem uma imensa informação importantíssima.
00:15:37:08 – 00:16:15:16
JORGE CORREIA
Vamos a um caso muito concreto e muito pragmático. Nas últimas semanas, na corrida eleitoral nos Estados Unidos, há um debate entre o presidente Tebaida e o candidato a presidente Trump. De resto, ele própria também é presidente. E acontece algo que nos chocou todos, que é o presidente Biden ficou longos segundos parado, o olhar quase no horizonte, não articulava palavras com a fluência que lhe articulava.
00:16:15:18 – 00:16:29:11
JORGE CORREIA
O que levou, no fim destas contas todas, a que ele tenha abandonado a corrida? O que que os olhos de um médico vêem nisto? Que aconteceu a de Almeida?
00:16:29:13 – 00:16:33:24
JOAQUIM FERREIRA
Os meus olhos são bem mais perigosos do que os olhos da população em geral a olhar para este tipo de situação.
00:16:33:24 – 00:16:35:00
JORGE CORREIA
Por isso é isso que eu estou a.
00:16:35:00 – 00:17:01:18
JOAQUIM FERREIRA
Procura no primeiro comentário. Felizmente ou infelizmente, o presente ainda não é meu doente, Portanto eu vou comentar à vontade, porque ausente aqui e como observador televisivo, não é, portanto, por cima da figura pública e portanto, aquilo que vou comentar não é algo que não tenha sido já comentado e que eu vendo que encontrou em múltiplos órgãos de informação e na web uma branca, aquele episódio por si só, deveria levar, no fundo, a decisão de abandono de uma campanha presidencial num país como os Estados Unidos.
00:17:01:18 – 00:17:10:14
JOAQUIM FERREIRA
Aquele episódio isolado por si só, não é, portanto, um episódio em que um de nós obviamente persegue o presente, mas tem no momento uma idade já avançada numa vida.
00:17:10:14 – 00:17:11:23
JORGE CORREIA
É difícil, não é durante muito tempo.
00:17:11:24 – 00:17:32:12
JOAQUIM FERREIRA
Passado, mas é possível estar cognitivamente muito bem naquela idade. Claro que sim. Claro que sim. Há pessoas notáveis que estão cognitivamente em plenitude. Será que aos 80 anos, aos 85 anos, portanto, aquele episódio que é o episódio em que toda a gente percebeu que ficou desorientado, no fundo ficou baralhado e foi público, não foi, nem foi e foi.
00:17:32:12 – 00:17:54:21
JOAQUIM FERREIRA
Todos ficamos incomodados, eu diria. Portanto, um episódio daqueles, por si só, deve nos levar a tirar conclusões de que há um declínio cognitivo ou que há uma doença. Não o problema do presente, que aquilo é associado a um conjunto de outras coisas, na linha daquilo que já falámos há pouco, obviamente, e eu sei bem porque eu vou buscar estes vídeos um bocadinho, até para ensinar os meus alunos.
00:17:54:23 – 00:18:14:13
JOAQUIM FERREIRA
O presidente Biden caiu de bicicleta uns meses antes. Estavam os jornalistas. Ele parou, desequilibrou se, a bicicleta caiu. Presidente Biden é a subir as escadas do esforço do avião presidencial, tropeçou e caiu. Se olharmos para o presidente, pai dele, está a andar mais devagar. Claramente já.
00:18:14:15 – 00:18:16:11
JORGE CORREIA
Não levanta tanto os joelhos, os.
00:18:16:11 – 00:18:43:20
JOAQUIM FERREIRA
Passos são mais pequenos, está mais lento a movimentar se e mesmo para o não perito, percebe que há ali algum desiquilíbrio. É quase como se nós fossemos lá dar um encontrão, provavelmente ele desequilibrar se ia esta e outros aspetos. Em alguns momentos parece que teve algum comportamento de maior desinibição num contexto social em que estava, inclusive com pessoas com que provavelmente não teria familiaridade.
00:18:43:24 – 00:18:45:12
JORGE CORREIA
Portanto, com um filtro mais baixo.
00:18:45:18 – 00:19:15:01
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, eu diria a alguém que alguém cuja memória está menos boa, alguém que tem 80 anos, cuja memória de vez em quanto leva o a pregar umas partidas, que em alguns combates fica desorientado. Alguém que de repente na rua perde o norte, numa zona que conhecia muito bem, está a andar mais devagar que de vez em quando cai, cujo comportamento em contexto social é diferente daquilo que tinha se calhar uns meses há uns anos antes.
00:19:15:03 – 00:19:48:15
JOAQUIM FERREIRA
Esse conjunto de coisas deve nos fazer suspeitar de que é uma doença assim. E, portanto, como é que o neurologista, que ainda por cima trabalha nesta área, olha, olha com preocupação e de alguma forma, para mim era óbvio que aquela conjugação de queixas, de sintomas, de sinais indiciavam de facto algum declínio. E, obviamente, perante uma entidade tão grande responsabilidade, obviamente não faria sentido, no fundo, exigirmos que alguém em que aquela conjugação de sinais, tão presente no fundo, mantivesse aquele tipo de atividade.
00:19:48:17 – 00:20:09:15
JORGE CORREIA
E nota se na linguagem também eu estou a perguntar isto por uma razão porque nós vimos o debate com Joe Biden. Lá está a falar mais devagar e mais pensativo, quase mais introspectivo e dois dias depois, seguramente com o apoio de um teleponto. Provavelmente isso, mas que voltou outra vez a fazer um discurso brilhante, como sempre fez.
00:20:09:17 – 00:20:47:21
JOAQUIM FERREIRA
O nosso cérebro e a forma como funciona é flutuante. Mesmo as pessoas que nós conhecemos que têm doença de Alzheimer e de doença diagnosticada e que de facto têm momentos de grande limitação, tem momentos de grande acutilância. E quem ouvir esta nossa conversa que de facto, pessoas mais velhas em casa com o diagnóstico e que obviamente vive essa crueldade na realidade, pessoas de quem gostamos, mas que é um declínio, vão reconhecer que aquilo que eu digo que mesmo alguém que já tem dificuldade vem no fundo de evocar o nome dos familiares, às vezes num contexto, numa conversa, expressa se numa forma muito acutilante, muito no ponto, muito sagaz.
00:20:47:23 – 00:21:08:03
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, o nosso cérebro também funciona de uma forma flutuante e, portanto, podemos estar menos bem no momento e uns minutos depois, umas horas depois ou num dia diferente, de facto, mais em forma. Portanto, essa flutuação faz parte da forma como o nosso cérebro funciona, Mas isso nós sabemos que é assim. Quem obviamente trabalha nesta área tem e tem essa noção e aumenta o grau desde que.
00:21:08:03 – 00:21:38:01
JOAQUIM FERREIRA
A questão é que o grau de exigência que se coloca a alguém que tem as responsabilidades do presidente de uma qualquer nação, obviamente é diferente do cidadão comum, que pode, obviamente, manter a sua autonomia, ter a sua vida familiar e profissional minimamente funcionante, mesmo com algum declínio. A pessoa ter um declínio cognitivo numa casa que esteja doente e mesmo as pessoas com demência, mesmo pessoas com doença de Alzheimer, mantêm podem manter algumas capacidades, inclusive de interferir em decisões familiares perfeitamente.
00:21:38:01 – 00:22:09:19
JORGE CORREIA
Estou me a lembrar de um livro que depois de um filme chamado Este país não é para velhos e fiquei a pensar se é esse e essa consciência do passar do tempo e da maneira como as coisas nos nos afetam. A nossa, o nosso, o nosso cérebro. Se. Poderíamos ou não temos ética em determinadas funções sociais ou profissões, ter limitação de idade ou obrigação de fazer alguns testes.
00:22:09:21 – 00:22:31:18
JOAQUIM FERREIRA
E eu acho que tudo que fazemos aqui conversar obriga nos a repensar imensas coisas, mas que deve ter outro sentido. Um bocadinho ao contrário. Estávamos aqui ambos a concluir que o exercício era importante. Se isso é importante, quase como entre aquelas intervenções que claramente pode atrasar o aparecimento destas doenças neurodegenerativas, então devemos mantermo nos o mais ativos possível.
00:22:31:20 – 00:22:37:24
JOAQUIM FERREIRA
A outra coisa que é importantíssima é a socialização e o convivermos intelectualmente, conversarmos os dois, irmos ao cinema e lemos um livro.
00:22:38:01 – 00:22:39:02
JORGE CORREIA
Também nos defende isso.
00:22:39:02 – 00:22:49:20
JOAQUIM FERREIRA
A socialização é uma forma de treino cognitivo, treino do cérebro, portanto, a atividade física é importante. O estímulo cognitivo e o treino cognitivo também é importante.
00:22:49:20 – 00:22:59:03
JORGE CORREIA
Portanto, ao contrário, se ficarmos isolados e quietos, a probabilidade de você ler a palavra definhar mais e.
00:22:59:03 – 00:23:16:18
JOAQUIM FERREIRA
Mais destes sintomas aparecerem mais cedo é maior. Agora, o que é que nós fazemos como sociedade? Nós reformamos as pessoas? Isto é inacreditável. Nós já sabemos que estas coisas são boas. Pegamos em alguém que tem 70 anos ou 157 dizendo se formos agora, vai.
00:23:16:20 – 00:23:18:05
JORGE CORREIA
Ser quase um atestado de inutilidade em.
00:23:18:06 – 00:23:54:10
JOAQUIM FERREIRA
Toda não prescrever quase uma receita que induz doença exatamente ao contrário. E dizer assim as rotinas que o obrigam a sair de casa, estar no emprego às 08h00, resolver problemas, escrever coisas e, no fundo, estar ativo. Mas conviver com os colegas tanto socialização é bom, deixou de acontecer e ainda por cima merecemos tudo o que nós estamos a dizer nos grupos de maior risco em que o acontecer desta imobilidade e desta diminuição da socialização causa mais problemas quando nós socialmente colocamos essa chancela.
00:23:54:10 – 00:24:08:21
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, nós, sem termos muita noção, estamos. Ainda por cima, a reforma, nomeadamente no modelo social português, é muito dicotómico. Ou trabalhamos ou não trabalhamos o nosso modelo social, O nosso modelo de segurança social.
00:24:08:21 – 00:24:10:00
JORGE CORREIA
Não tem degrauzinho.
00:24:10:02 – 00:24:24:24
JOAQUIM FERREIRA
Está a trabalhar, está formado, não tem degraus, não tem degraus e portanto nós estamos a fazer mal às pessoas por uma decisão social que ter de ser uma questão de conforto, que a pessoa nos vai fazer as coisas que nunca fez. Mentira.
00:24:24:24 – 00:24:28:18
JORGE CORREIA
Tem se o tempo todo para fazer. Tens o rendimento aqui vai se vai fazer.
00:24:28:20 – 00:24:57:08
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, um modelo, tanto um modelo de intervenção social em que as coisas fossem uma gradação. E obviamente vamos manter as pessoas, não vamos manter um contributo positivo, vamos manter. Há uma história nas instituições e, portanto, estamos a desaproveitar, por um lado, o conhecimento e, por outro lado, estamos a aumentar o risco de induzir a doença. Portanto, é algo, eu diria, quase trágico do ponto de vista de movimento social.
00:24:57:09 – 00:25:21:03
JORGE CORREIA
Eu tenho uma curiosidade que é nós estamos na sociedade da performance, do mais rápido, do mais produtivo, do mais eficiente, do mais eficaz e, portanto, a existência de uma aceleração disto. O nosso cérebro gasta se com essa aceleração ou é completamente independente da maneira como ele funciona e vai funcionando?
00:25:21:05 – 00:25:27:18
JOAQUIM FERREIRA
Não sabemos totalmente. A pergunta é o cérebro estragas tudo? Esse estímulo, esta.
00:25:27:18 – 00:25:38:08
JORGE CORREIA
Alta competição, no fundo é como os músculos e os pés dos futebolistas que não finda no fim da carreira. Estão aí. Jesus e a nossa cabeça pode queimar entre aspas.
00:25:38:10 – 00:26:03:15
JOAQUIM FERREIRA
E diria, é a melhor informação científica que temos. Sugere que não. Neste sentido que é quem é mais estimulado, quem é quem, no fundo tem que tem que ter, tem que tem que produzir mais usando o mesmo cérebro está e resultar um prejuízo, ou seja, se este se esgotava mais cedo. Isto aplicado ao coração. Há quem ache que o número de batimentos cardíacos é finito, portanto não devemos fazer exercício, porque quando fazemos exercício aumenta a frequência cardíaca.
00:26:03:18 – 00:26:19:11
JOAQUIM FERREIRA
Convém poupar, Portanto, se gastarmos mais cedo os batimentos que temos, morremos mais cedo e, portanto, não o serve primeiro. Isto não se aplica ao coração, não é verdade? Mas há quem defenda essa possibilidade. Há aqueles que são avessos a fazer atividade física. É boa.
00:26:19:11 – 00:26:19:23
JORGE CORREIA
Desculpa.
00:26:19:23 – 00:26:44:00
JOAQUIM FERREIRA
Se isto se aplica, se isto se aplica ao cérebro, que não que saibamos quando há outros fatores que muitos desses fatores induzem e diria doença mental. Sim, não é tudo estudo. Esse grau de exigência pode levar a quadros de perturbação da ansiedade ou quadros depressivos. Tentamos a doença e a doença, pois interfere com a nossa performance? Claro que sim.
00:26:44:04 – 00:26:57:17
JOAQUIM FERREIRA
E a doença é um fator de risco para essas outras coisas. Indiretamente, sim, diretamente. Que saibamos com os melhores dados científicos que temos. Não podemos continuar a usar o cérebro na nossa plenitude, mesmo de tal forma acelerada que pense no.
00:26:57:17 – 00:27:23:01
JORGE CORREIA
Que é o que é extraordinário quando nós. Este é um programa sobre sobre comunicação e o que é que tem de ser Uma curiosidade iniciática sobre o nosso cérebro desde tenra idade começa a guardar palavras e a juntar palavras e frases e entender o significado sobre as coisas de que a gente guarda exactamente as palavras. Onde é que elas estão, como é que funciona estas gavetas, como é que há.
00:27:23:01 – 00:27:46:09
JOAQUIM FERREIRA
Coisas que estão de facto guardadas em gavetas e, portanto, há um espaço que nós sabemos mais ou menos o que é que lá acontece. Como é que nós sabemos isso? Sabemos desde há muitos, muitos anos. O que acontecia era que quem tinha uma lesão cerebral, um acidente vascular, um tumor ou mesmo um acidente, um traumatismo, alguém que tinha de repente vemos com uma seta espetada na cabeça.
00:27:46:11 – 00:28:00:14
JOAQUIM FERREIRA
Nós fazíamos a correlação entre se a lesão está neste sítio, se ela de repente deixou de falar. Portanto, a fala tem a ver com isto. Hoje temos muito mais tecnologia e conseguimos fazer isso com PACs e ressonâncias e mesmo estudos. Ainda mais. É ainda mais dinâmico.
00:28:00:14 – 00:28:04:06
JORGE CORREIA
Consegue se ver a iluminação, umas luzinhas dentro da nossa cabeça, consegue.
00:28:04:06 – 00:28:33:15
JOAQUIM FERREIRA
Perceber qual é que é a área hoje? Conseguimos, Conseguimos ter luz é sinal de sinal, é mais o termo. Mas de facto o que também sabemos é que muita da informação está em ritos, tal como acontece em outros sítios. Não estão distribuídas, são conexões, são que são conexões. Há um conjunto de eixos nervosos que ligam uma estrutura à outra, mas nós hoje temos forma de inclusive ir lá tratar mais uma vez, usando aqui a doença em que que mais?
00:28:33:15 – 00:28:38:22
JOAQUIM FERREIRA
Em que o mais trabalho, que é a doença de Parkinson. Nós hoje temos técnicas que nós chamamos de estimulação cerebral profunda.
00:28:39:00 – 00:28:39:14
JORGE CORREIA
Diretas.
00:28:39:17 – 00:29:01:12
JOAQUIM FERREIRA
E vamos colocamos um estilete, um demos com um fio muito fininho que na ponta tem uns pontos, tanto um estímulo elétrico e nós vamos interromper circuitos e ao interrompermos circuitos, nós quando ligamos a bateria interrompe um circuito e a interrupção no circuito induz um benefício. Se eu tivesse doença de Parkinson e se tivesse um desse tratamento? E se a minha doença se manifestasse por tremor?
00:29:01:14 – 00:29:09:13
JOAQUIM FERREIRA
Se eu tivesse a bateria ligada, o tremor estava controlado, não tremia. Eu desliguei a bateria e ao fim de um ou 2/2 e estou a tremer muito.
00:29:09:15 – 00:29:12:12
JORGE CORREIA
Consegue se descobrir já essas zonas dessas impressoras.
00:29:12:12 – 00:29:25:00
JOAQUIM FERREIRA
Portanto nós temos de facto zonas onde essas funções estão mais guardadas e nós sabemos isso. Por isto que se houver uma lesão, aquilo deixa de acontecer. A produção da palavra, por exemplo, o compreender a palavra oral, o que é dito Porque?
00:29:25:00 – 00:29:25:10
JORGE CORREIA
Porque já há.
00:29:25:10 – 00:29:43:09
JOAQUIM FERREIRA
Sítios falantes, preferenciais onde os sons nesses sítios nós perdemos essa capacidade. Mas depois muitas das outras funções têm a ver com estas conexões, tanto com a ligação entre um núcleo com o outro. Portanto, eu diria que a base tem dois mecanismos coisas mais localizadas e coisas um bocadinho de transmissão de informação dentro do ser.
00:29:43:11 – 00:29:55:10
JORGE CORREIA
Isso explica porque, Provavelmente porque é que é mais fácil para nós aprender. Não é só uma língua ou qualquer outra coisa mais facilmente quando somos mais novos, são de onde essas ligações estão aí, mais activas, mais frescas, mais possíveis.
00:29:55:10 – 00:30:19:14
JOAQUIM FERREIRA
As nossas aptidões são diferentes e, obviamente, a aquisição de um conjunto, digamos, de capacidades, eu diria, é mais fácil em idades de facto mais jovens. A questão da aquisição de uma nova língua, obviamente é importante. Mas, mais uma vez, o que nós temos de aprender nesses últimos anos é que é possível. A plasticidade neuronal é muito mais permanente ao longo da vida do que nós pensávamos.
00:30:19:16 – 00:30:51:08
JOAQUIM FERREIRA
Quando eu aprendi neurologia, quando alguém tinha um acidente vascular e tinha, ficava com menos força num braço, numa perna, no fundo. Tínhamos muito enfoque na reabilitação nos primeiros três meses depois do acidente, mas quando era mais jovem, era quase como o potencial de reabilitação. Acontece que temos que aproveitar aquela janela. Nós sabemos que ao longo de toda a vida, hoje sabemos que o potencial de modular, de alterar estruturas cerebrais no sentido de compensar um defeito acontece ao longo de toda a nossa vida.
00:30:51:13 – 00:30:51:23
JORGE CORREIA
Já que estamos.
00:30:51:23 – 00:31:24:22
JOAQUIM FERREIRA
A falar, obviamente das crianças. É mais ágil e o problema de recuperação é maior. Mas mesmo nas pessoas com 40, 50 anos, esse potencial de reabilitação não é, portanto, mudar estruturas cerebrais com coisas periféricas. Eu mexer este braço faz com que a zona do cérebro responsável por este movimento vá mudando, neste caso no sentido de benefício. Sim, nós hoje e as coisas absurdas que nós fazemos, nós prescrevemos, nós prescrevemos o sistema e muitos dos sistemas de reabilitação fisioterapia por sessões.
00:31:24:24 – 00:31:44:23
JOAQUIM FERREIRA
Hoje, a forma como nós tratamos as doenças não tem nada a ver com isso. É o brincar. Em tempos alguém, um doente, pode fazer 40 sessões de fisioterapia numa doença crônica e tem que fazer aquele tipo de intervenção que nós chamamos multidisciplinar ao longo de todo o curso. A doença, como a doença, não vai desaparecer, ele tem que manter.
00:31:45:00 – 00:31:48:21
JOAQUIM FERREIRA
Pode ser uma vez por semana, pode ser duas por mês. É uma coisa contínua, mas.
00:31:48:21 – 00:31:50:19
JORGE CORREIA
O sistema está preparado apenas para descrever.
00:31:50:22 – 00:32:19:21
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, prescrever 40, ter apoio para 40 sessões. Quer dizer, eu faço entre janeiro e abril, depois ficar espera por janeiro do próximo ano e repetir era o mesmo que alguém tomava aspirina. Eu tenho que tomar aspirina. Sempre tomo entre janeiro e Abril, pois para espanto, portanto. Mas nós às vezes aceitamos isto. Formar novos médicos como familiares doentes. A forma como hoje olhamos para o tratamento das doenças é totalmente diferente e num mundo muito mediático ainda acontecer.
00:32:19:21 – 00:32:31:10
JOAQUIM FERREIRA
Os Jogos Olímpicos há muito pouco tempo, muita da forma como nós hoje tratamos as nossas doenças degenerativas, Alzheimer tem a ver com o conhecimento que vem da área do desporto, das ciências, do desporto.
00:32:31:12 – 00:32:32:11
JORGE CORREIA
Por quê?
00:32:32:13 – 00:32:42:03
JOAQUIM FERREIRA
Porque as questões da intensidade, por exemplo, o tempo, a fisioterapia, o uso técnicas que são muito de treinar um atleta, incremento. Dois Aumentar a intensidade.
00:32:42:03 – 00:32:47:21
JORGE CORREIA
Porque estamos a aprender com o desporto de alta competição são coisas que podemos utilizar na nossa vida.
00:32:47:23 – 00:32:54:12
JOAQUIM FERREIRA
Muito claramente. Claramente. O que é que os atletas treinam? Padrões de movimento que os tornem mais.
00:32:54:12 – 00:32:56:12
JORGE CORREIA
Rápido, alta performance.
00:32:56:14 – 00:33:08:07
JOAQUIM FERREIRA
E, portanto, hoje os doentes são atletas nos aspectos físicos e, portanto. E há um ensinamento que também vem dessas áreas.
00:33:08:07 – 00:33:37:23
JORGE CORREIA
Claro que quando que estávamos a falar de falar de de quando alguma coisa corre mal e eu estava a pensar numa das doenças mais prevalentes em Portugal que são os AVC’s, vulgo tromboses, que as pessoas falam popularmente e em alguns casos as pessoas começam lá está, entra no ar as palavras não dizem e depois quando estão já em recuperação, não conseguem dizer determinadas palavras, não conseguem construir frases mais complexas.
00:33:38:00 – 00:33:48:03
JORGE CORREIA
Passadas umas semanas ou uns meses, parece que há ali uma recuperação e que se vai buscar ali ao baú umas palavras. E de essa plasticidade de que estamos a falar.
00:33:48:09 – 00:34:15:05
JOAQUIM FERREIRA
É também também no fundo, é quase fazer com que o cérebro vá buscar zonas saudáveis para substituir zonas doentes que deixaram de cumprir aquela função e, portanto, pode haver uma melhoria ao longo do tempo. Para além dos tais três meses que mencionei. Sim, e não estamos ali, não temos as armas que gostaríamos para ter uma recuperação total na maior parte dos doentes, nomeadamente quando não há uma grande recuperação naquela fase inicial.
00:34:15:07 – 00:34:34:12
JOAQUIM FERREIRA
Mas, por exemplo, a questão da terapia da fala, tanto o ajudar para que nós comuniquemos melhor por que é que as pessoas ficam com essa voz tramada? São duas coisas. Uma é a capacidade de articularmos as palavras. No fundo, a nossa caixa de som que produz o som correto. Mas também é irmos buscar ao cérebro as palavras certas.
00:34:34:18 – 00:34:44:04
JOAQUIM FERREIRA
Eu estar a olhar para este microfone e chamar a isto microfone, não chamar outra coisa. Eu até sei que isto é o microfone, mas eu posso chamar outro termo, tal chamada alteração da linguagem.
00:34:44:06 – 00:34:46:13
JORGE CORREIA
Precisamos dos significados e dos significantes.
00:34:46:13 – 00:35:10:08
JOAQUIM FERREIRA
E eu sim, precisamos de eu sei o que é que este objeto é, pois o cérebro tem que ir, ok? A gaveta que me permite fazer a correlação entre o meu reconhecimento desta imagem é exatamente a palavra microfone. É por ser capaz de expressar toda esta interligação. Uma das coisas mais cruéis em relação a que as pessoas têm acidentes vasculares cerebrais e manterem a sua capacidade cognitiva continuam inteligentes.
00:35:10:11 – 00:35:11:07
JORGE CORREIA
É pensar mais.
00:35:11:07 – 00:35:17:19
JOAQUIM FERREIRA
E menos, mas não conseguirem compreender aquilo que ouvem oralmente. Estamos aqui a falar. Eu sei que está a falar.
00:35:17:19 – 00:35:19:05
JORGE CORREIA
Para mim isto é profundamente angustiante.
00:35:19:05 – 00:35:40:21
JOAQUIM FERREIRA
Que está a falar das coisas mais difíceis que eu ainda me recordo, dos doentes que vi ao longo destes anos. É um doente que está numa instituição que tem uma afasia. Tem a tal alteração da linguagem, alguém que está bem do ponto, vista intelectual, cognitivo. O que ele tem, de facto, é uma incapacidade de perceber aquilo que lhe é dito oralmente.
00:35:40:23 – 00:36:02:21
JOAQUIM FERREIRA
E as pessoas que o rodeavam não achavam que eu estava doente. Achavam que não era apenas a incapacidade de compreender a informação verbal oral que ele sonhava. Agora imagine, não é? Nós não conseguimos comunicar ao outro que a minha dificuldade é apenas uma questão de interpretar o som e perceber o que é dito. Mas eu sei onde é que estou.
00:36:02:23 – 00:36:03:19
JOAQUIM FERREIRA
Eu estou bem.
00:36:03:21 – 00:36:05:11
JORGE CORREIA
E não consigo explicar aos outros.
00:36:05:11 – 00:36:07:13
JOAQUIM FERREIRA
Entendeu bem? É duma duma.
00:36:07:17 – 00:36:08:09
JORGE CORREIA
Aflição.
00:36:08:10 – 00:36:20:10
JOAQUIM FERREIRA
Exactamente isso tem a ver com ver contém ver com a razão, termos interesse em nós, estarmos atentos, estarmos curiosos. Não é percebermos que há ali qualquer coisa que não encaixa e depois tentarmos, obviamente, fazer bem e ajudar o outro.
00:36:20:10 – 00:36:44:11
JORGE CORREIA
O cérebro é seguramente auto construtivo. Nós dizemos eu é o meu corpo e não dizemos o meu coração e o meu cérebro é quase e identitário. E é no cérebro que se guarda a nossa identidade. Eu estou sempre a pensar o cérebro por um lado, a mente, por outro é a alma. Esta lá está uma santíssima Trindade.
00:36:44:13 – 00:37:12:09
JOAQUIM FERREIRA
Eu sou neurologista, portanto tenho aqui uma particular PIC pelo cérebro, não é? Tivemos aqui um colega cardiologista. Ele ia pôr um enfoque no coração e assim, de facto, o cérebro é o órgão que comanda todos estes aspectos cognitivos de coordenação de e, portanto, claramente eu diria pelo menos é o mais bem posicionado. O que quer que seja isso da consciência e da alma, é o mais bem posicionado para ter essa responsabilidade sobre isso.
00:37:12:09 – 00:37:15:13
JORGE CORREIA
É uma consciência. O que é que é a consciência?
00:37:15:15 – 00:37:24:11
JOAQUIM FERREIRA
A consciência são. Sai um bocadinho fora de campos daquilo que são estas funções cognitivas que eu estava aqui a falar.
00:37:24:12 – 00:37:27:14
JORGE CORREIA
É só a biologia que conta.
00:37:27:16 – 00:37:45:09
JOAQUIM FERREIRA
Depende das nossas convicções e convicções que são poderosíssimas. Depende das nossas convicções. Isso quer dizer que esta conversa para as questões, inclusive as espirituais. Há estudos engraçados que dizem que rezar, rezar em benefício do outro funciona, Tentar aquilo que nós somos é.
00:37:45:09 – 00:37:47:20
JORGE CORREIA
Também um exercício. De alguma maneira.
00:37:47:22 – 00:38:20:05
JOAQUIM FERREIRA
Nós já nos estudos de síntese, que vão sintetizar a melhor informação disponível e que de facto concluem que, no fundo, ter pessoas a rezar não é em benefício de alguém, Isso acaba por funcionar. São áreas. Como é que o neurologista olha para isso? Que são eles um bocadinho desviantes daquilo que no fundo é o método experimental. Não é que aquilo que gera os dados que nos devem levar a tomar decisões o mais robustas possível, eu diria a melhor expressão que eu posso usar com respeito.
00:38:20:07 – 00:38:50:22
JOAQUIM FERREIRA
Não sendo o meu mundo, é sendo aspetos que eu diria um bocadinho fora daquilo que a minha área de competência maior, aquilo que eu aprendi neste em todos estes anos, é um enorme respeito e uma enorme É, Mas quem trabalha na área da farmacologia? Isto é uma coisa muito engraçada em farmacologia. Nos estudos que nós fazemos, nós comparamos um medicamento verdadeiro com um falso medicamento que nós chamamos placebo, um fundão a ter uma cápsula de farinha, Se acharmos que é farinha, não faz nada naquela doença.
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JOAQUIM FERREIRA
Não é? Mas uma cápsula de farinha em algumas doenças é poderosíssima.
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JORGE CORREIA
Apenas pelo ato do autoconvencimento.
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JOAQUIM FERREIRA
Pelo ato que nós chamamos expetativa, que é a expetativa que eu tenho de que aquela cápsula que eu sei que pode tratar a doença dor ou a fibromialgia, ou a depressão, aquela cápsula que não tem nada lá dentro. Dito assim, desta forma, melhora imenso o sintoma que eu quero tratar.
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JORGE CORREIA
Apenas por esse efeito de expectativa e sugestão.
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JOAQUIM FERREIRA
Sim, mas é um efeito físico. Nós hoje, com as tecnologias que temos, é um.
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JORGE CORREIA
Efeito.
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JOAQUIM FERREIRA
Real, é um efeito real. Existem estudos muito interessantes feitos mais uma vez na doença de Parkinson. O que é que fizeram? Foram ver o que acontecia no cérebro quando os doentes tomavam um placebo. Um tal comprimido inerte e melhoravam e documentaram que existe de facto uma libertação de proteína que é o transmissor mais envolvido na doença de Parkinson.
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JOAQUIM FERREIRA
Exatamente da mesma forma como existe quando usamos um medicamento real que de facto chega ao cérebro. Portanto, a expetativa de tomar um medicamento que melhore a minha doença, neste caso doença de Parkinson, liberta verdadeiramente o tal transmissor. Não é um ato de simpatia de o médico dar uma palmadinha nas costas. Neste momento é que é bom e portanto estou bem tratado e vou me sentir melhor.
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JOAQUIM FERREIRA
Não? De facto, liberta a substância certa, o que é de facto.
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JORGE CORREIA
Fantástico, que é extraordinário, seguramente, na área de competências que desenvolveu há uma discussão ética há muitos anos nas cidades modernas. Tem a ver com as fronteiras da vida e da morte. A primeira é que quando, quando se, enfim, quando se decidiu que a morte se declara, quando o tronco cerebral morreu, mas ainda não resolvemos o outro problema que é então é qual é o momento em que o cérebro passou a funcionar como?
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JORGE CORREIA
Como vida? Como? Como é que? Como é que está essa? Essa discussão entre entre on off, ligado e desligado.
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JOAQUIM FERREIRA
É um tema tão delicado e tão sensível que é muito difícil. É muito difícil. Primeiro, é uma pena que às vezes temos que ter a coragem, a sabedoria, dizer que não sabemos, não sabemos e, portanto, aqui a questão é num desenvolvimento do feto chegar a uma criança que está na qual é que é o momento de facto, em que, em que está esse mesmo switch, acontece o.
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JORGE CORREIA
Momento zero.
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JOAQUIM FERREIRA
O momento zero. Do ponto de vista alegria para um profissional de saúde, acaba por ser o momento do nascimento. Tudo o resto é uma área de enorme dificuldade de precisão, do tal ponto de vista dicotômico. E são áreas onde, claramente não dominando, prefiro não entrar.
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JORGE CORREIA
É na parte final da nossa, da nossa existência. É mais fácil fazer essa determinação.
00:41:48:17 – 00:42:23:10
JOAQUIM FERREIRA
Temos regras bem definidas, que são regras que têm pelo menos a vantagem de serem consensualmente aceites por toda a comunidade científica. E, portanto, é o que eu digo quando temos, é sempre mais fácil fazer experimentação ou fazer investigação quando temos, no fundo, o sujeito da nossa experimentação connosco. Ou seja, é mais fácil aceder ao corpo humano. Então, uma pessoa que está em fim de vida do que estar a discutir, no fundo, que são os os mecanismos neuronais que estão na base de um ser que obviamente ainda temos um acesso por interposta pessoa, que neste caso, obviamente.
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JORGE CORREIA
Que perguntas lhe faltam responder para o cérebro Tem uma lista? Tem.
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JOAQUIM FERREIRA
São tantas que é melhor não listar. Pergunta A pergunta mais simples é voltando às bases nas bases. Eu sou médico, tenho essas responsabilidades académicas, Tenho que ajudar os meus alunos a crescer novamente? Tenho que fazer investigação na área onde trabalho, porque é esse conjunto que eu acho que me dá a competência depois para fazer as outras coisas bem, mas eu sou médico, não é, portanto, a minha preocupação principal.
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JOAQUIM FERREIRA
Mesmo as coisas que eu faço quando eu estudei, ensino e do ponto vista de investigação, é para ajudar as pessoas e é bom que eu não me esqueça.
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JORGE CORREIA
E é importante essa. Juntar a clínica com a investigação não.
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JOAQUIM FERREIRA
É obrigatório, mas eu acho que é uma boa conjugação. Se a pessoa quiser manter atividade física. Nem todos os médicos, nem todos os médicos que fazem investigação têm que ter este perfil. Eu diria que estudar nesta vontade dá mais trabalho de fazer, por exemplo, mais coisas, mas permite se ter as dúvidas e colocar as perguntas para depois tentar responder.
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JOAQUIM FERREIRA
Do ponto de vista de investigação, permite me ter a experiência daquilo que sobre o qual eu ensino e permite me ter acesso às pessoas.
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JOAQUIM FERREIRA
As doenças, a maior parte das doenças e das pessoas com que eu me cruzo são doenças muito mais são doenças cruéis, são doenças que interferem, que fazem pessoas percam autonomia, percam.
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JORGE CORREIA
Identidade.
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JOAQUIM FERREIRA
E, portanto, há um declínio associado para a qual eu tenho algumas coisas para oferecer. Eu não tenho muitas, nem aquelas que eu gostaria de ter. Portanto, a minha prioridade primeira é ajudar a que rapidamente consigamos ter essas. Os meus objetivos são tão fáceis de listar. Atingi los é mais difícil.
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JORGE CORREIA
Professor, muito obrigado por esta por esta conversa. Lá está, dois cérebros que tentaram comunicar pela linguagem, seguramente. E lá está, mexemos nos e lemos muitas coisas e falamos com muitas pessoas.
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JOAQUIM FERREIRA
E temos de sair daqui agora, mexer nos rapidamente e correr para nos mantermos o mais saudável possível.
00:44:23:13 – 00:44:24:01
JORGE CORREIA
Muito obrigado.
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